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Brasil vê avanço em negociação com os EUA sobre tarifas, mas permanece dúvida sobre sanções a autoridades

Da Redação

Em um encontro recente com o presidente americano Donald Trump, o governo brasileiro sinalizou avanços na renegociação do pacote de tarifas imposto pelos EUA. Ainda assim, permanece em aberto a questão das sanções aplicadas a autoridades brasileiras sob a chamada Lei Magnitsky, gerando cautela no Palácio do Planalto sobre o desfecho diplomático.

ama das tarifas e sanções

O Brasil enfrenta atualmente uma forte tensão comercial com os Estados Unidos. A administração americana impôs tarifas elevadas sobre produtos brasileiros e aplicou sanções individuais contra autoridades brasileiras, em razão de investigações, decisões judiciais e políticas institucionais que Washington considera hostis ou desfavoráveis ao seu interesse.
No centro da disputa está o “tarifaço” — tarifação elevada que afeta exportações brasileiras — e a pressão sobre a Suprema Corte e o sistema de justiça no Brasil.

A reunião de dois presidentes e o sinal de diálogo

Em outubro de 2025, Lula e Trump se encontraram em evento internacional na Ásia. O encontro foi descrito por Brasília como “franco e construtivo”. O governo brasileiro entendeu que a conversa abriu caminho para retomada imediata das negociações bilaterais sobre tarifas e, potencialmente, sobre as sanções direcionadas a autoridades brasileiras.
Fontes do Itamaraty afirmam que, embora não haja ainda compromisso formal para remoção imediata de sanções ou tarifas, as equipes dos dois países foram orientadas a se reunir com urgência para discutir “cada setor” da tributação e definir cronograma de ação.

O que está em jogo para o Brasil

Para o governo Lula, restabelecer um relacionamento comercial normalizado com os EUA é crucial por várias razões:

  • As exportações brasileiras para os EUA são substanciais e tarifas elevadas prejudicam setores industriais, agropecuários e serviços.
  • A redução das tarifas pode aliviar pressões sobre emprego, crescimento e investimento doméstico.
  • O Brasil pretende reafirmar papel de aliado estratégico dos EUA, sem, no entanto, comprometer sua autonomia ou política externa com o Sul Global.
  • Entretanto, a retirada das sanções contra autoridades representa um desafio político-institucional intenso, pois envolve questões de justiça, soberania e tratamento das instituições brasileiras.

A tensão central: autoridades sancionadas vs soberania nacional

Sobre as sanções, o governo brasileiro tem expressão de insatisfação aberta: autoridades atingidas pela Lei Magnitsky — instrumento americano que permite punir por violações de direitos humanos ou corrupção — vêm sendo enquadradas mesmo sem que o Brasil reconheça os critérios ou tenha tido participação clara no processo.
No encontro, Lula manifestou que as sanções “são injustas” e que as autoridades brasileiras envolvidas foram submetidas ao devido processo legal. O Brasil exige que qualquer acordo de tarifas respeite a autonomia e o tratamento igualitário das instituições nacionais.
Esse tipo de condição reduz a margem de manobra de Washington e reforça o cálculo de Brasília de que a normalização comercial não pode significar submissão institucional.

Avanços concretos — e pontos de cautela

Avanços sinalizados:

  • Confirmação de que as duas equipes técnicas vão se reunir “imediatamente” para negociar setores tarifários.
  • Concordância formal entre os dois presidentes de que o canal permanece aberto e a vontade política existe.
  • Reconhecimento de que o Brasil não aceita simplesmente recuar sem contrapartidas.

Pontos de cautela levantados pelo governo brasileiro:

  • Nada foi ainda assinado ou formalizado — apenas estrada aberta.
  • Os EUA ainda não declararam que removerão as sanções ou tarifas, somente que estão dispostos a diálogo.
  • A vinculação entre tarifas e sanções cria “dependência mútua” que pode se transformar em instrumento de pressão ou chantagem.
  • A forma como a pauta das autoridades sancionadas será tratada ainda é ambígua — sem clareza sobre compensações ou cronograma.
  • A indústria brasileira exige prazos, segurança e regras claras — e teme retaliações rápidas se a negociação fracassar.

Estratégia brasileira e os riscos de capitulação

No Planalto, há um entendimento estratégico: negociar tarifas, sim — mas jamais à custa da soberania institucional. O risco é que um “acordo barato” com os EUA termine por fragilizar o poder nacional, subordinando o Brasil a decisões externas.
Por outro lado, se o Brasil recusar totalmente a negociar, poderá sofrer danos econômicos substanciais, isolando-se e perdendo mercados ou investimento externo.

Para evitar a capitulação, o governo adota três linhas de ação:

  1. Fazer público que o Brasil não aceita cláusula que interfira na independência da Justiça ou nas funções do STF.
  2. Preparar setores vulneráveis da economia para eventuais custos temporários de manutenção do conflito tarifário — como a indústria, agronegócio e exportadores.
  3. Diversificar mercados e alianças — evitando que a negociação se concentre apenas nos EUA — reforçando acordos com China, Índia e Brics.

O impacto na economia e o calendário político

Se bem sucedida, a negociação das tarifas pode gerar:

  • retomada de exportações brasileiras para os EUA em níveis elevados,
  • redução de incerteza para investimento estrangeiro,
  • melhora de confiança na indústria.

No calendário político, esse movimento é significativo porque:

  • Em ano pré-eleitoral global, a economia brasileira precisa de bons sinais.
  • Para o governo Lula, um avanço nesse campo reforça imagem de gestor internacional e pragmático.
  • Para a oposição, o tema se transforma em campo de disputa: acusar o governo de “capitulação” ou de “proteção do Brasil”.

4 – Conclusão

As negociações entre Brasil e Estados Unidos sobre tarifas e sanções representam um momento chave para o governo Lula e para o país. Há, pela primeira vez em longo período, abertura real de diálogo — mas nada está fechado, e a soberania institucional brasileira está em jogo.
O Brasil está diante de uma encruzilhada: aceitar acordo rápido com risco de perda de autonomia ou prosseguir com negociação longa, segura, e manter sólidos pilares institucionais.
Se houver coerência entre economia e independência política, o resultado pode ser vitória estratégica. Caso contrário, será concessão perigosamente será vista como episódio de dependência externa.