Atitude Popular

Amorim diz “sejamos otimistas” diante de risco de ação militar dos EUA na Venezuela

Da Redação

O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim manifestou nesta quarta-feira uma postura de cautela otimista sobre o risco de que os Estados Unidos intervenham militarmente na Venezuela. Em entrevista concedida a meios de comunicação latino-americanos, Amorim advertiu contra alarmismos, mas reiterou que o Brasil e seus parceiros regionais devem se preparar diplomática e institucionalmente para blindar a soberania venezuelana.

Para Amorim, o momento exige ação política coordenada, fortalecimento de canais de diálogo e ativação de iniciativas multilaterais que possam prevenir uma escalada militar. A declaração sucede recentes tensões navais no Caribe e advertências vindas de Washington sobre o combate ao narcotráfico venezuelano — mote repetido para justificar incursões militares no entorno do país.


“Sejamos otimistas”: entre prudência e denúncia

Amorim defendeu que o pessimismo frente à capacidade de intervenção dos EUA pode se tornar um estímulo à resignação diplomática. Ao dizer “sejamos otimistas”, propõe que a América Latina retome protagonismo, mostre coesão e se articule para dissuadir qualquer agressão externa.

Ele advertiu, porém, que essa confiança depende de mobilização concreta: um bloco diplomático forte, alertas em organismos internacionais e pressão sobre governos aliados que possam tacitamente apoiar ações militares.

No discurso do ex-chanceler, a otimismo não é ingênuo: ele reconhece que o imperialismo estadunidense ainda dispõe de meios militares superiores, mas aposta que a diplomacia multilateral, a solidariedade sul-americana e a opinião pública global podem inibir o ímpeto hegemônico.


Cenário regional e os riscos concretos

Nas últimas semanas, os EUA vem promovendo operações navais no mar Caribe, com abordagens de embarcações venezuelanas sob justificativa de combate ao tráfico. A Venezuela denunciou essas ações como agressões que violam o direito internacional e a soberania nacional.

Amorim alertou que essas incursões operam como gatilhos de escalada, especialmente se algum ataque atingir embarcação venezuelana em águas territoriais ou envolvendo civis. Ele considera que, a partir desse ponto, Washington poderia alegar retaliação legítima e expandir a operação.

Outro risco apontado é a guerra por procuração, onde grupos apoiados ou aliados (como na Colômbia ou no Caribe) poderiam ser instados a agir como fuerzas intermediárias, aumentando a tensão sem o custo político imediato para os EUA.


A Venezuela na diplomacia ativa que o Brasil propõe

Amorim defendeu que o Brasil retome papel de mediação estratégica entre Caracas e Washington, articulando com outros países latino-americanos um pacto de não intervenção e defesa da soberania regional. Ele lembrou que o Brasil já teve histórico de boas relações com a Venezuela, capaz de servir como facilitador de diálogo em momentos de crise.

Ele também defendeu que o país use sua influência no MERCOSUL, CELAC, UNASUL e fóruns diplomáticos do Sul Global para construir uma frente de respaldo político à Venezuela, impedindo que o caso seja tratado como questão bilateral e reforçando sua dimensão continental.


Reações e tensões internas

As declarações de Amorim repercutiram rapidamente: partidos de oposição no Brasil aproveitaram para reivindicar uma postura mais firme no governo Lula contra qualquer tipo de ameaça externa. Por outro lado, setores diplomáticos próximos ao Executivo ponderam que o Brasil já manifestou posição clara de defesa da soberania venezuelana, e que nenhuma declaração adicional pode comprometer a neutralidade institucional do país.

No exterior, a Venezuela reagiu com cautela e apreço ao discurso de Amorim, entendendo que ele retoma uma tradição diplomática brasileira de respeito ao princípio da autodeterminação dos povos.


Conclusão: entre o risco e a resistência

Amorim não ignora o poder militar estadunidense nem os riscos de escalada. Mas sua mensagem de “sejamos otimistas” coloca que uma América Latina unida e pronta pode inibir o retorno da doutrina do domínio militar.

O tema deixa de ser apenas venezuelano: transforma-se em símbolo da autonomia sul-americana, onde o Brasil pode retomar protagonismo diplomático e reafirmar que, quando um país ameaça outro soberano, o mundo deve responder — não com armas, mas com alianças e firmeza contra o arbítrio.

A declaração de Amorim ecoa como um convite: não recuar, mas articular — porque a soberania, uma vez aberta à intervenção, pode faltar ao povo na hora mais vulnerável.