Da Redação
Tarifas de até 50%, revogação de vistos de ministros do STF e tornozeleira eletrônica para Bolsonaro marcam escalada do conflito entre Washington e Brasília.
Desde a noite de ontem, 18 de julho de 2025, as tensões entre Estados Unidos e Brasil aceleraram rumo a um impasse diplomático sem precedentes. A sequência dos acontecimentos desenha um cenário de choque institucional, político e econômico que merece ser acompanhado com rigor.
No sábado, 19 de julho de 2025, a crise entre Brasil e Estados Unidos atingiu seu ápice até o momento, escancarando um conflito de múltiplas camadas — diplomática, econômica, judicial e política — com a soberania nacional brasileira como eixo central da disputa.
O estopim veio com a carta oficial do presidente norte-americano Donald Trump, datada de 9 de julho, em que anunciou a imposição de tarifas de 50% sobre todas as importações brasileiras, com vigência a partir de 1º de agosto. A medida foi apresentada como reação à suposta perseguição judicial movida pelo Supremo Tribunal Federal contra Jair Bolsonaro, ex-presidente e aliado direto de Trump. O gesto foi interpretado em Brasília como uma clara tentativa de ingerência externa sobre o funcionamento das instituições brasileiras.
A resposta não tardou. No dia 19, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, ordenou busca e apreensão na residência de Bolsonaro, determinou o uso de tornozeleira eletrônica, bloqueou suas redes sociais e o proibiu de manter contato com agentes estrangeiros. A motivação apresentada foi o risco concreto de Bolsonaro tentar obstruir as investigações, inclusive com auxílio internacional, o que poderia comprometer a soberania jurisdicional brasileira.
A reação do governo dos EUA veio de forma coordenada. O secretário de Estado Marco Rubio anunciou a revogação imediata dos vistos de oito ministros do STF e de seus familiares, acusando a Corte de “censura judicial” e “violação de liberdades fundamentais”. A medida elevou a temperatura diplomática a um patamar inédito desde a redemocratização.
O presidente Lula reagiu com firmeza, classificando as ações americanas como “chantagem política” e declarando que “nenhum gringo vai dar ordens ao Brasil”. Em pronunciamento nacional, no dia 17, Lula reafirmou o compromisso com a democracia, com o Estado de Direito e com a independência entre os poderes. Declarou também que o Brasil responderá de forma proporcional, com base na Lei de Reciprocidade Comercial aprovada em 2023.
No campo econômico, os impactos começaram a se materializar de forma imediata. Estima-se que as exportações brasileiras para os Estados Unidos já sofrem perdas diárias na casa dos US$ 100 milhões, afetando diretamente setores como agronegócio, siderurgia, têxtil e calçadista. A ameaça de tarifas ampliadas, somada à investigação comercial aberta pelos EUA contra o Brasil, preocupa empresários, diplomatas e analistas — que alertam para o risco de isolamento e para o uso crescente do comércio como arma de guerra híbrida.
Internamente, a crise acabou por reunificar setores políticos em torno da defesa da soberania. Mesmo vozes críticas ao governo passaram a reconhecer a gravidade da ofensiva americana e a necessidade de uma resposta coordenada. O próprio Congresso Nacional iniciou discussões para revisar acordos bilaterais e acelerar a integração comercial com os BRICS e com outros parceiros estratégicos.
Enquanto isso, diplomatas europeus, latino-americanos e asiáticos vêm tentando mediar uma solução de desescalada. Alemanha, França, China e México têm mantido conversas discretas com os dois lados, mas Trump parece determinado a usar o conflito como arma eleitoral — apostando na polarização internacional para galvanizar sua base conservadora nos EUA.
Para o Brasil, o que está em jogo não é apenas o comércio ou a relação bilateral com Washington, mas sim o direito de manter seu sistema de justiça independente e de não se curvar à vontade de uma potência estrangeira. A crise de 19 de julho marca, portanto, um momento de inflexão histórica: a afirmação do Brasil como país soberano, capaz de sustentar suas decisões internas mesmo diante de pressões externas severas.
Com a entrada em vigor das tarifas prevista para 1º de agosto, o governo corre contra o tempo para encontrar um caminho que combine resistência estratégica, diplomacia ativa e proteção econômica. A crise exige respostas no curto prazo, mas também impõe uma agenda de longo prazo: diversificação comercial, fortalecimento dos BRICS, soberania tecnológica e reconstrução da capacidade estatal de defesa econômica.
Mais do que uma disputa entre lideranças políticas, a crise EUA–Brasil é hoje a expressão direta de uma luta pela autonomia nacional em tempos de guerra híbrida globalizada. E o Brasil, desta vez, parece determinado a não ceder.


