Nas últimas semanas de 2025, os Estados Unidos protagonizaram uma série de operações militares no Caribe ao largo da costa venezuelana que levantam sérias dúvidas sobre a legalidade, o respeito à soberania e o risco de escalada descontrolada. Operações aéreas ou navais dirigidas contra embarcações suspeitas — sem transparência clara dos fatos — vêm sendo justificadas como “combate ao narcotráfico”, mas de fato se aproximam de ações de guerra. É hora de olhar para isso como tal.
Os Estados Unidos voltaram a atacar, neste domingo, 19 de outubro de 2025, uma embarcação na costa da Venezuela, matando ao menos seis pessoas. O Pentágono alegou que o barco transportava drogas e representava uma “ameaça à segurança regional”. O governo venezuelano, por sua vez, denunciou o ataque como ato de guerra, acusando Washington de violar flagrantemente o direito internacional e a soberania de um Estado independente.
Este é o segundo bombardeio em menos de uma semana. A repetição dos ataques marca uma escalada perigosa e sem precedentes no Caribe, aproximando o continente americano de um cenário de confronto direto entre uma potência militar estrangeira e um país soberano.
A volta da Doutrina Monroe disfarçada de “guerra ao narcotráfico”
Sob o pretexto de combater o tráfico internacional de drogas, os EUA vêm realizando operações militares extraterritoriais na costa venezuelana, colombiana e até nicaraguense. Na prática, essas ações representam a reedição da Doutrina Monroe — o velho princípio colonial de que o continente americano seria “esfera de influência exclusiva” de Washington.
As operações têm seguido um padrão: aviões e navios norte-americanos identificam embarcações supostamente ligadas ao tráfico, ordenam parada e, sem aviso, abrem fogo. Nenhuma autoridade internacional participa da verificação das alegações, e as vítimas são tratadas como “combatentes inimigos”, o que, segundo juristas, configura execução sumária e crime de guerra.
Caracas reage e leva o caso à ONU
O governo da Venezuela anunciou que apresentará uma denúncia formal ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, classificando o ataque como violação da Carta da ONU e agressão militar injustificável. O chanceler venezuelano afirmou que “os Estados Unidos estão transformando o Mar do Caribe em um teatro de guerra e empurrando o continente para o caos”.
A diplomacia venezuelana também pediu o apoio de países do Sul Global e do BRICS, alertando que, se o precedente for aceito, qualquer nação latino-americana poderá ser atacada sob pretextos fabricados.
Crimes de guerra e impunidade
Juristas internacionais já alertam que as ações norte-americanas configuram crimes de guerra e violações graves das Convenções de Genebra. Entre os motivos:
- Ausência de autorização da ONU para uso da força fora do território dos EUA.
- Execuções sumárias de tripulantes, sem processo ou verificação da acusação.
- Uso desproporcional de poder militar, com mísseis antinavio e drones armados contra embarcações civis.
- Operações em águas internacionais, sem qualquer coordenação diplomática ou judicial com os países costeiros.
Segundo fontes locais, as vítimas dos bombardeios mais recentes eram pescadores e comerciantes marítimos, não traficantes. A destruição foi total, e os corpos foram recolhidos pela Guarda Costeira venezuelana.
O risco de uma guerra aberta
A escalada atual no Caribe não é apenas um incidente militar: é um gatilho para uma crise continental. A Venezuela já colocou suas forças navais e aéreas em estado de alerta máximo e convocou exercícios militares conjuntos com aliados regionais.
Diplomatas latino-americanos alertam que o comportamento dos EUA é imprevisível e perigoso. O presidente Donald Trump, em busca de fortalecimento político interno, tem apostado na retórica belicista e em demonstrações de força, especialmente em regiões onde possa projetar domínio.
Mas cada ataque aumenta o risco de um confronto direto com forças venezuelanas — e, por extensão, com países aliados, como Cuba e Nicarágua.
A América Latina sob mira
A agressividade norte-americana no Caribe reflete um retrocesso histórico: o retorno da intervenção militar direta como instrumento de política externa. O mesmo discurso que sustentou as invasões do Panamá, Granada e República Dominicana nos séculos passados volta agora travestido de “combate ao narcotráfico” e “segurança marítima”.
Na prática, trata-se de impor controle territorial, testar limites e enviar mensagens políticas a governos que se recusam a se alinhar ao eixo ocidental. A Venezuela é o alvo imediato, mas o recado é para toda a América Latina: qualquer país que desafie a hegemonia dos EUA poderá ser atacado — até mesmo fora de conflito declarado.
Um silêncio cúmplice e o despertar do Sul Global
A reação internacional, por enquanto, é tímida. A União Europeia silencia, enquanto a ONU emite comunicados vagos de “preocupação”. Já o Sul Global começa a se mobilizar. China, Rússia, Irã, Índia e Brasil estudam apresentar propostas conjuntas de condenação aos ataques, que ferem diretamente os princípios da soberania e da autodeterminação.
Lula e Gustavo Petro têm mantido contato diplomático com Caracas e manifestado preocupação com a escalada. Há consenso entre chancelerias latino-americanas de que os EUA estão forçando o continente a escolher entre submissão e resistência.
Conclusão: o barril de pólvora do Caribe
O que está acontecendo no Caribe é mais do que um incidente militar — é o prenúncio de uma crise global. Os EUA, agindo fora de qualquer mandato internacional, estão cometendo crimes de guerra e testando os limites da paciência do Sul Global.
A fronteira entre “operação policial” e “ato de guerra” foi rompida. Cada míssil lançado na costa da Venezuela é um passo rumo a uma guerra regional que ninguém poderá controlar.
Se o mundo não reagir agora, o Caribe pode se transformar, em pouco tempo, em um novo Golfo Pérsico — um campo de batalhas alimentado por petróleo, poder e impunidade.


