Da Redação
Em 26 de outubro de 2025, a guerra entre Rússia e Ucrânia entra em nova fase com Moscou assumindo papel de resistência prolongada contra o que considera uma ofensiva ocidental. Sob a perspectiva russa, há uma luta não apenas territorial, mas existencial — contra sanções, expansão da OTAN e tentativas de diluir a influência russa no seu próprio “vecino próximo”.
Uma guerra que se transformou em confronto civilizacional
Para Moscou, a guerra na Ucrânia há muito deixou de ser uma disputa territorial. Ela é percebida como um confronto existencial — uma tentativa de impedir que a Rússia continue sendo um polo autônomo de poder, cultura e influência em um mundo multipolar.
Em 2025, o governo russo enxerga-se diante de um cerco crescente: bases da OTAN ampliadas na Europa Oriental, sanções econômicas inéditas e o uso da Ucrânia como plataforma militar e de inteligência do Ocidente. A guerra, segundo o discurso do Kremlin, tornou-se um campo de resistência contra a expansão imperial da OTAN, cujas ações já ultrapassam o território ucraniano, com operações cibernéticas, sabotagens e ataques indiretos em regiões fronteiriças da Federação Russa.
A expansão da OTAN e o cerco geopolítico
Desde a dissolução da União Soviética, Moscou advertia que a expansão da OTAN em direção ao leste era uma linha vermelha. Em 1990, os EUA haviam prometido que a aliança não avançaria “uma polegada” para o leste — promessa nunca cumprida. De lá para cá, 14 países foram incorporados à estrutura militar ocidental, colocando sistemas de mísseis e radares cada vez mais próximos das fronteiras russas.
A entrada da Ucrânia nesse eixo, para Moscou, significaria a perda total da profundidade estratégica — um risco intolerável para a segurança nacional. Daí o argumento russo de que a “operação militar especial” iniciada em 2022 foi, na verdade, uma ação preventiva: não contra o povo ucraniano, mas contra o cerco militar ocidental.
Em 2025, essa lógica é levada ao limite. Relatórios indicam que países da OTAN estão fornecendo armamentos de longo alcance capazes de atingir cidades russas, além de compartilhar inteligência em tempo real com Kiev. Moscou afirma que isso equivale a uma intervenção direta, ainda que disfarçada sob o discurso de “apoio à democracia”.
Ataques à soberania e a guerra híbrida ocidental
A Rússia acusa o Ocidente de adotar uma estratégia de guerra híbrida total: uma combinação de ataques econômicos, tecnológicos, informacionais e psicológicos. O objetivo, segundo analistas russos, seria “quebrar o moral da sociedade” e provocar colapso interno.
Entre as ações destacadas estão:
- Bloqueio financeiro e confisco de ativos russos no exterior, em violação ao direito internacional.
- Ciberataques contra sistemas de energia, transporte e comunicações dentro da Rússia.
- Campanhas de desinformação e censura seletiva da mídia russa no Ocidente, apagando vozes dissonantes.
- Financiamento de ONGs e think tanks hostis ao governo russo, com o objetivo de estimular divisões internas.
Moscou chama isso de colonialismo informacional, uma forma moderna de guerra, onde algoritmos, sanções e narrativas substituem tanques e fuzis.
A estratégia russa de resistência
Em resposta, a Rússia reorganizou toda a sua estrutura estatal em torno do conceito de soberania integral — militar, econômica, tecnológica e informacional. O país fortaleceu a indústria bélica, nacionalizou cadeias produtivas e intensificou acordos com o Oriente e o Sul Global.
Essa nova doutrina se baseia em quatro eixos:
- Autonomia energética, com exportações redirecionadas para a Ásia e fortalecimento da parceria com China e Índia.
- Soberania tecnológica, priorizando microeletrônica e inteligência artificial militar próprias.
- Multipolaridade diplomática, com alianças com BRICS, OPEP+, Irã e países africanos.
- Guerra cognitiva, para enfrentar o domínio informacional do Ocidente e reconstruir a narrativa russa perante o mundo.
Internamente, o Kremlin promove um discurso de unidade nacional e resistência histórica, comparando o atual conflito com as grandes guerras defensivas da Rússia — de Napoleão a Hitler.
Os efeitos da guerra e o custo humano
Apesar das conquistas estratégicas e da resiliência econômica frente às sanções, o custo humano da guerra é imenso. Centenas de milhares de pessoas morreram ou foram feridas, e milhões foram deslocadas. Moscou reconhece o preço alto, mas insiste que a batalha é necessária para impedir um destino ainda pior: a fragmentação do Estado russo e sua submissão ao domínio ocidental.
A propaganda ocidental retrata a Rússia como agressora isolada, mas, em boa parte do Sul Global, cresce a percepção de que o país resiste ao imperialismo atlântico. Essa visão é especialmente forte em regiões que sofreram décadas de intervenções militares da OTAN — do Iraque à Líbia, da Síria ao Afeganistão.
O tabuleiro global em mutação
A guerra na Ucrânia acelerou a transição do mundo unipolar para uma ordem multipolar e conflituosa.
De um lado, os Estados Unidos e seus aliados europeus tentam preservar uma hegemonia em declínio.
Do outro, Rússia, China, Irã, Índia e países latino-americanos buscam construir uma nova arquitetura geopolítica baseada em soberania, comércio equitativo e defesa comum contra sanções e ingerências.
Para Moscou, o campo de batalha ucraniano é apenas um dos teatros dessa guerra global invisível — uma guerra pelo direito de existir fora da tutela do Ocidente.
Conclusão
Em 26 de outubro de 2025, a Rússia se vê diante do que define como uma guerra pela própria sobrevivência histórica. Mais do que território, está em jogo o princípio da autodeterminação diante de um Ocidente que se recusa a aceitar o fim de sua hegemonia.
A OTAN continua expandindo seu poder militar, econômico e informacional; Moscou, por sua vez, responde com resiliência e contraofensiva estratégica. O conflito já não é mais apenas entre dois países — é o espelho de uma disputa civilizacional.
E nessa disputa, a Rússia se posiciona como o bastião da multipolaridade e da soberania nacional diante de um sistema que insiste em ditar quem pode — e quem não pode — existir.


