Atitude Popular

Haddad diz que pode ter nova reunião com Bessent após telefonema Lula-Trump

Da Redação

Após o diálogo entre Lula e Trump embalando nova fase diplomática, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirma que poderá participar de novo encontro com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, durante eventos multilaterais, para “virar a página” nas relações bilaterais.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira que existe a possibilidade de uma nova reunião com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, nos próximos dias. A declaração foi feita durante sua participação no programa “Bom dia, Ministro”, da EBC, onde ele destacou que a recente aproximação diplomática entre Brasília e Washington abriu espaço para retomar o diálogo econômico bilateral.

Haddad explicou que essa reunião dependerá da agenda bilateral e do espaço para conversas entre as delegações dos dois países, especialmente em eventos como G20, Banco Mundial ou FMI, onde Brasil e Estados Unidos estarão representados. Segundo o ministro, há uma determinação expressa dos dois presidentes — Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump — de “virar a página” nas relações entre os países, especialmente nos campos da economia verde, da reindustrialização e do comércio internacional.

O ministro também afirmou que aguarda definição dos protocolos diplomáticos para um eventual encontro presencial ou virtual. Ele mencionou que o chanceler brasileiro Mauro Vieira e o senador americano Marco Rubio podem atuar como mediadores ou articuladores de contato entre as partes, reforçando o clima de reaproximação após um período de tensão nas relações bilaterais.


Reuniões anteriores e divergências

Vale lembrar que reuniões anteriores entre Haddad e Bessent foram marcadas e depois canceladas. Na ocasião, o ministro afirmou que o encontro foi inviabilizado por ação de “militância anti-diplomática”, interessada em prejudicar o diálogo entre Brasil e Estados Unidos.

Outro episódio que gerou desconforto diplomático ocorreu quando o deputado Eduardo Bolsonaro revelou ter se reunido com Bessent no mesmo dia em que estava prevista a reunião oficial entre o ministro e o secretário do Tesouro. O gesto foi interpretado por auxiliares do governo como uma tentativa de criar canais paralelos de influência e interferir nas tratativas econômicas entre os dois países.

Esses episódios acirraram tensões sobre quem realmente conduz o canal de negociação bilateral e até que ponto o governo brasileiro mantém autonomia diplomática diante de pressões externas e internas.


Impactos e expectativas

A retomada de um canal direto com o Tesouro americano, liderado por Scott Bessent, é considerada estratégica para enfrentar o impacto do tarifaço de 50% imposto por Trump sobre produtos brasileiros, que afetou setores como o agronegócio, o aço e o alumínio.

Se concretizado, o novo encontro pode abrir caminho para negociações sobre flexibilização tarifária, cooperação em tecnologias limpas e economia verde, e reconstrução da confiança institucional entre os governos.

O êxito, porém, dependerá de variáveis delicadas: a capacidade do Brasil em apresentar contrapartidas técnicas sólidas, a habilidade política de Haddad em equilibrar interesses, e o contexto eleitoral de 2026, que pode alterar significativamente a disposição dos Estados Unidos em negociar com um governo progressista e soberanista.


Conclusão

A nova interlocução entre Haddad e Bessent pode marcar uma reconfiguração diplomática importante, com o Brasil buscando se posicionar como interlocutor confiável e independente no diálogo com Washington. O movimento faz parte de um esforço mais amplo de reconstrução da política externa brasileira após anos de isolamento e tensões diplomáticas herdadas do bolsonarismo.

A relação entre Lula e Trump — marcada por pragmatismo e cautela — pode, paradoxalmente, inaugurar uma nova fase de equilíbrio geopolítico, na qual o Brasil busca defender seus interesses sem se submeter à lógica hegemônica do império.


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