Atitude Popular

Renato Dagnino deu o tom: “Nós somos os dinossauros da vez”

No programa Bancos da Democracia, Sara Goes recebe Renato Dagnino e Edinalva Neves para discutir como a tecnociência solidária pode inaugurar uma nova economia e impedir o colapso do planeta

O episódio do Bancos da Democracia exibido no dia 23 de junho, véspera de São João, transformou a festa popular em plataforma crítica para pensar o futuro da vida no planeta. Sob condução de Sara Goes, o programa recebeu Ednalva Neves (professora da UFSM e coordenadora da ABEPETS) e Renato Dagnino (professor da Unicamp e integrante dos Setoriais de Economia Solidária e de C&T/TI do PT), dois dos principais nomes do pensamento e da prática da economia solidária no Brasil.

Entre referências à cultura popular e reflexões agudas, a conversa mergulhou fundo na urgência de construir uma nova racionalidade para o desenvolvimento. Ao afirmar que “nós somos os dinossauros da vez”, Renato Dagnino deu o tom do encontro: ou mudamos as bases do conhecimento e da produção, ou o fim da linha será coletivo.

Para Dagnino, a economia solidária exige uma plataforma cognitiva própria, fundada em saberes populares, práticas ancestrais e uma outra relação entre ciência, tecnologia e sociedade. “A separação entre ciência e tecnologia é uma invenção do capitalismo para controlar o conhecimento da classe trabalhadora”, disse. Ele defendeu a ideia de “tecnociência solidária” como uma construção conjunta entre universidades e redes produtivas populares.

Ednalva Neves reforçou que o desafio é transformar a universidade em aliada dos que constroem alternativas no chão da realidade. “A economia solidária já acontece. Cabe a nós, da academia, nos unirmos a quem está criando essa outra sociedade. Mais do que pensar se é possível crescer, precisamos perguntar: qual o crescimento que queremos?”

O programa também abordou o fascínio de parte da esquerda pela China. Sara pontuou o risco de uma visão “sebastianista” em relação ao modelo chinês. Dagnino reconheceu o papel histórico do socialismo chinês, mas advertiu: “Não temos décadas de socialismo no Brasil, mas temos a chance de criar musculatura política e social com a economia solidária”. Ednalva, por sua vez, alertou para os limites ambientais e humanos do modelo chinês, com base na exploração intensiva do trabalho e na produção em escala insustentável.

Três temas emergiram como pautas futuras: a disputa entre reindustrialização empresarial e solidária, o papel estratégico da economia solidária nas compras públicas, e a transformação das agendas universitárias. Dagnino lembrou que apenas 0,02% do PIB brasileiro em compras públicas chega aos empreendimentos solidários, mesmo com potencial para muito mais. “Se o PT agora é 100% economia solidária, como disseram seus candidatos à presidência, temos que disputar os 15% do PIB que passam pelas compras públicas.”

Ao fim, a metáfora de Ednalva ecoou entre o chat e os convidados: “O modelo atual trata o ser humano como resíduo”. A economia solidária, concluiu, aponta para uma lógica em que o trabalho, a vida e os territórios estão no centro — e não à margem — da economia.

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