Em rechaço à democracia brasileira, Washington impõe tarifas, sanções e restrições que acirram embate com Brasília — Brasília reage com firmeza e busca alternativas estratégicas
Da Redação
Uma análise aprofundada dos ruídos diplomáticos, os impactos econômicos e as próximas jogadas esperadas na relação entre Brasil e Estados Unidos.
No dia 21 de julho de 2025, as relações entre Brasil e Estados Unidos atravessam um dos momentos mais delicados desde o fim da Guerra Fria. A ofensiva tarifária promovida por Donald Trump, impôs sanções comerciais agressivas contra o Brasil, em especial sobre os setores de café, suco de laranja, aço, carne bovina e aeronáutica. A medida, interpretada por analistas e autoridades como retaliação direta ao julgamento de Jair Bolsonaro pelo STF, ampliou as tensões diplomáticas e colocou em xeque a estabilidade econômica brasileira.
Desde o início de julho, os sinais de agravamento da crise vinham se acumulando. O estopim, no entanto, foi o anúncio formal das tarifas de 50% que entram em vigor no próximo dia 1º de agosto. Em paralelo, o governo Trump, sob forte influência do secretário de Estado Marco Rubio e de parlamentares ultraconservadores, anunciou a suspensão de vistos diplomáticos de ministros do STF, incluindo Alexandre de Moraes, e ameaçou aplicar sanções secundárias ao Brasil por sua aproximação com a Rússia e a China.
A resposta brasileira foi imediata. O presidente Lula, em pronunciamento conjunto com os presidentes do Senado e da Câmara, classificou as ações americanas como um “ataque frontal à democracia e à soberania nacional”. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, alertou para o risco de colapso em setores exportadores caso as tarifas se mantenham. Segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o país já perde cerca de US$ 100 milhões por dia com o bloqueio progressivo de contratos. Somente no setor pesqueiro, mais de 70% das exportações destinadas aos EUA já foram suspensas, gerando paralisações e risco de falências em várias regiões costeiras do país.
Enquanto isso, o mercado reagiu com volatilidade. O IBOVESPA oscilou fortemente durante a manhã desta segunda-feira, fechando em leve alta de 0,7%, impulsionado por investidores que apostam na ampliação de acordos com a China e a União Europeia como alternativas comerciais. O dólar, no entanto, permanece pressionado, operando entre R$ 5,56 e R$ 5,59. A inflação preocupa: a alta de tarifas e o risco de sanções secundárias a fertilizantes russos, fundamentais para o agronegócio brasileiro, podem afetar diretamente a produção agrícola e o preço dos alimentos, elevando o custo de vida e ameaçando a estabilidade social.
A imprensa internacional acompanha a escalada com atenção. Veículos como Reuters, AP News e Bloomberg destacam a instabilidade institucional no Brasil e apontam que a retaliação americana está diretamente ligada ao julgamento de Bolsonaro e à crescente aproximação do Brasil com blocos alternativos ao eixo EUA-OTAN. Já editoriais do Washington Post e da Associated Press criticam o que chamam de “bullying estratégico” por parte de Trump, avaliando que o presidente brasileiro tem reagido com firmeza e ganhado apoio internacional. Em contraste, análises conservadoras, como a publicada pelo Rio Times, questionam se o Brasil tem fôlego econômico e institucional para sustentar um confronto prolongado com os Estados Unidos.
Internamente, a tensão também afeta o bolsonarismo. Parte dos empresários ligados à extrema-direita, antes defensores de um alinhamento automático com Washington, agora se veem prejudicados economicamente e dividem-se entre a fidelidade ideológica e a necessidade de sobrevivência comercial. No Congresso, a maioria se alinhou ao discurso soberanista do Planalto, ainda que setores da oposição tenham tentado utilizar a crise para desgastar o governo.
Nos próximos dias, o governo brasileiro intensificará as tentativas de diálogo diplomático. A expectativa é de uma rodada emergencial de negociações com autoridades americanas, mediada possivelmente por países europeus ou integrantes do BRICS. Lula também busca fortalecer laços com a China, que já sinalizou disposição para absorver parte das exportações afetadas. Paralelamente, o Brasil prepara medidas de retaliação simbólica e práticas para proteger seu mercado interno e suas instituições. Há rumores de que o Itamaraty pode convocar o embaixador brasileiro em Washington para consultas, o que elevaria ainda mais o grau da crise.
A leitura predominante entre analistas é de que esta crise pode ser um divisor de águas nas relações bilaterais. De um lado, os EUA sob Trump reforçam seu viés intervencionista, especialmente contra países que seguem caminhos autônomos. De outro, o Brasil responde com uma inédita articulação entre soberania econômica e defesa institucional — um movimento que, se bem-sucedido, pode reposicionar o país como liderança regional e ator relevante no cenário multipolar em formação.
Se não houver recuo nos próximos dias, os efeitos dessa escalada poderão reverberar por anos, não apenas na economia, mas também na estrutura diplomática da América Latina. O Brasil está diante de uma encruzilhada: dobrar-se ao velho poder imperial ou transformar a crise em oportunidade para reconstruir suas bases de soberania e autonomia.


