Atitude Popular

“A conferência é chegada e partida ao mesmo tempo”

Encontro em Goiás reuniu mais de mil delegados, aprovou 80 propostas e abriu caminho para um novo plano nacional da economia solidária

A 4ª Conferência Nacional de Economia Solidária (Conaes), realizada entre 13 e 16 de agosto em Luziânia, Goiás, marcou a retomada de uma agenda estratégica abandonada durante os últimos anos. A informação foi destacada em entrevista concedida ao programa Bancos da Democracia, da TV Atitude Popular, com a participação de Gisleide Carneiro, da Comissão Executiva do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, e de Gilberto Carvalho, secretário nacional de Economia Popular e Solidária do governo federal.

Com a presença de mais de mil representantes de todos os estados, o encontro consolidou propostas construídas ao longo de um processo que envolveu conferências municipais, territoriais, estaduais e temáticas. A etapa nacional aprovou 80 prioridades distribuídas em quatro eixos — produção e consumo, financiamento e crédito, formação e assessoramento técnico, e ambiente institucional e legislação — que servirão de base para a atualização do II Plano Nacional de Economia Solidária.

Para Gisleide Carneiro, o evento foi um marco de mobilização: “Foram mais de dez anos sem conferência, mas a força dos empreendimentos e da nossa organização fez com que conseguíssemos realizar esse reencontro. Saímos fortalecidos e com demandas claras, como a regulamentação urgente da Lei 15.068/2024, essencial para garantir a política nacional de economia solidária”. Ela lembrou ainda que catástrofes como enchentes no Sul e estiagem no Norte dificultaram a mobilização, mas não impediram a realização das etapas regionais.

Já Gilberto Carvalho reforçou o caráter de reconstrução após o desmonte da área: “A partir do golpe e, sobretudo, no governo Bolsonaro, acabou-se não só com a Secretaria Nacional de Economia Solidária, mas com o próprio Ministério do Trabalho. Essa conferência é chegada e partida ao mesmo tempo: ponto de reconstrução e de relançamento da economia solidária como política pública”.

Entre as principais resoluções, destacam-se a criação de um Programa Nacional de Compras Públicas da Economia Solidária, voltado a garantir mercado para produtos e serviços de cooperativas e empreendimentos, e o fortalecimento do Sistema Nacional de Finanças Solidárias, que integra bancos comunitários, fundos rotativos e moedas sociais. O debate também apontou para a necessidade de ampliar o orçamento da secretaria, hoje considerado insuficiente diante da dimensão do setor.

A conferência contou com a presença do presidente Lula, fato destacado pelos organizadores como decisivo para projetar a economia solidária no centro do debate político. “A participação do presidente deu visibilidade e mostrou que há um compromisso do governo em dialogar com o movimento”, avaliou Gisleide. Carvalho acrescentou que “não se trata de complementar renda, mas de construir um novo modelo de desenvolvimento. Precisamos de políticas de compras públicas, crédito e formação para que a economia solidária interfira no projeto econômico do Brasil”.

Outro aspecto ressaltado foi a participação massiva de mulheres — cerca de 75% dos delegados — e a presença expressiva de jovens, sinalizando renovação e vitalidade. Além disso, houve consenso sobre a urgência de rever a legislação das cooperativas, hoje considerada injusta por privilegiar o agronegócio.

A partir das resoluções aprovadas, o Conselho Nacional de Economia Solidária deve consolidar até o fim do ano o novo Plano Nacional, que servirá de guia para a implementação das políticas públicas. A expectativa é que esse processo transforme em ações concretas o entusiasmo observado durante o encontro.

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