No Dia Internacional da Democracia, Dirlene Marques e André Ricardo defendem que a radicalização participativa e a economia solidária são caminhos para enfrentar limites do Estado burguês e do neoliberalismo
A data de 15 de setembro, instituída pela Assembleia Geral da ONU para celebrar e analisar a democracia no mundo, pautou a edição especial do Bancos da Democracia na TV Atitude Popular. A entrevista, exibida com apresentação excepcional de Sousa Junior, reuniu a professora de Economia da UFMG Dirlene Marques e o professor de Sociologia da UFSCar André Ricardo, presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores de Economia Solidária, para um debate sobre democracia e economia solidária na conjuntura atual.
Logo na abertura, Dirlene problematizou o alcance real da democracia no país e questionou a ideia de que o direito ao voto esgota a participação popular. “A democracia brasileira, ela sempre foi absolutamente limitada a quem tem dinheiro”, afirmou, ao apontar que o acesso aos espaços de poder permanece restrito. Ela avaliou que punições recentes a crimes contra a ordem democrática, embora relevantes, não alteram a lógica geral de decisões que historicamente ferem direitos da classe trabalhadora, e criticou a estrutura econômica que prioriza o capital em detrimento das políticas sociais. Ao discutir o ciclo neoliberal, Dirlene descreveu o encolhimento do Estado no campo social, a precarização de universidades e do SUS e a transferência contínua de recursos públicos para a esfera financeira. Na leitura dela, conferências e instâncias participativas perderam potência crítica, com movimentos sociais mais cooptados e menos confrontacionais, o que dificulta reabrir o horizonte de uma transformação popular e solidária.
André trouxe a discussão para o plano da economia solidária como método de democratização substantiva, começando pelo mundo do trabalho. “Não é possível haver democracia com conviver democracia com genocídio, por exemplo”, disse, ao defender um engajamento internacional pela vida e pelos direitos. Em seguida, sublinhou a centralidade da autogestão e das redes produtivas para produzir mudanças estruturais, de baixo para cima, organizando trabalhadores em empreendimentos pautados por igualdade decisória. “A democratização do espaço de trabalho é um ponto de partida bastante importante para a democratização da sociedade como um todo”, enfatizou.
No diálogo, os dois convergiram que a democracia meramente formal não basta. André retomou a tradição do socialismo democrático associada a Paul Singer como orientação estratégica, propôs recuperar a pedagogia da participação e citou medidas concretas para destravar o Estado em favor do setor solidário. Entre elas, a reorientação das compras públicas para redes como a Justa Trama, mudanças na lei de licitações, regulação efetiva da Lei Paul Singer e metas para democratizar o uso do fundo público. Também chamou atenção para a disputa legislativa nas eleições de 2026, com alerta para o papel do Senado e da Câmara no desenho institucional e no equilíbrio entre poderes.
No fim, Dirlene reforçou a urgência de recompor uma cultura de mobilização popular que pressione o Estado, reoxigene os movimentos e devolva às ruas o protagonismo por direitos, trabalho digno e paz. A premissa comum do programa foi clara, a economia solidária precisa de democracia substantiva para florescer, e a democracia precisa de práticas econômicas solidárias para se tornar uma experiência cotidiana de direitos, participação e justiça social.
📺 Programa Bancos da Democracia
📅 De segunda à sexta
🕙 Das 8h30 às 9h30
📺 Ao vivo em: https://www.youtube.com/TVAtitudePopular
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