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“A Doutrina Monroe está de volta”, afirmam analistas em nova fase geopolítica

Da Redação

Em artigo recente, colunistas destacam um retorno retórico da Doutrina Monroe no discurso externo dos EUA — as implicações para a América Latina reacendem debates sobre soberania, hegemonia e alinhamentos estratégicos.

Um texto divulgado recentemente em veículo de mídia internacional afirma que os Estados Unidos estariam reedificando, ainda que de modo simbólico e gradual, a “Doutrina Monroe” — postura clássica da política externa norte-americana segundo a qual qualquer interferência europeia no continente americano seria vista como ato de agressão. Essa retomada declarada repercute como sinal geopolítico agressivo, sobretudo num momento de tensões globais e disputas por influência na América Latina.

Os autores argumentam que, ao reforçar discursos de “interessa hemisférico”, os EUA buscam reafirmar sua autoridade regional e responder ao avanço de projetos de multipolaridade conduzidos por potências como China, Rússia e blocos regionais nos quais o Brasil e outros países latino-americanos aspiram protagonizar. Nesse contexto, a “Doutrina Monroe 2.0” apareceria como ferramenta simbólica para legitimar intervenções diplomáticas, ameaças econômicas ou trocas de pressão sui generis sob pano de fundo narrativo de segurança continental.

Para especialistas em relações internacionais, a retomada da doutrina — ainda que não formalizada em política nacional — sinaliza o retorno de uma visão de “patrulha no quintal americano”. Esse tipo de discurso tem efeitos concretos quando erguido em fóruns internacionais, tratados mercosulanos ou blocos de integração regional, podendo gerar tensão entre países que insistem em agendas de autonomia. A retórica de proteção hemisférica poderia ser usada para contestar aproximações latino-americanas com potências extrarregionais, ou como justificativa para sancionar países que se distanciem da linha geopolítica dos EUA.

Em nações como Brasil, México e Argentina, esse tipo de gesto reativa memórias históricas de subordinação diplomática, bem como debates sobre independência e autodeterminação. Governos críticos ao hegemonismo dos EUA ponderam que qualquer reposicionamento da Doutrina Monroe precisa ser respondido com diplomacia proporcional e reforço de alianças regionais. Para esses atores, é essencial administrar o simbolismo sem escalada militar direta — mas reafirmar direitos internacionais, tratados interamericanos e foros multilaterais como mecanismos de contenção.

Do ponto de vista estratégico, uma retórica de Doutrina Monroe revisitada pode estimular Estados latino-americanos a reforçar blocos, parcerias sul-sul e mecanismos de integração que minimizem a dependência norte-americana. Ela pode servir também como catalisador para atrair atores globais alternativos, consolidar projetos de soberania tecnológica e diversificar alianças econômicas. Em contrapartida, pode gerar desconfortos diplomáticos e crise de confiança com Washington em casos de alinhamentos opostos.

Ainda que o artigo sugira uma “reedição” da doutrina, é pouco provável que os EUA retomem intervenções diretas com o mesmo escopo clássico. O ambiente internacional contemporâneo exige recuos simbólicos, vacilações pragmáticas e compromisso com instituições multilaterais. Por isso, o retorno da Doutrina Monroe tende a se cristalizar mais como manobra discursiva do que como projeto de ocupação territorial em modelo antigo.