Atitude Popular

“A extrema direita é um dispositivo de destruição de países”

Um trompete na porta da história, Fabiano Leitão analisa o julgamento do golpismo, a mídia e o lugar de Lula no mundo

Em edição do programa Democracia no Ar, da Rádio e TV Atitude Popular, apresentada por Sara Goes, Fabiano Leitão, o Trompetista, analisou o primeiro ciclo do julgamento dos responsáveis pela intentona que culminou em 8 de janeiro de 2023. A entrevista, fonte desta matéria, percorreu o peso histórico do processo no Supremo, a atuação da militância, a cobertura da mídia e o cenário internacional.

Logo na abertura, Leitão definiu o dia como aguardado por décadas e sublinhou a singularidade de ver oficiais de alta patente respondendo diante de um tribunal civil. “A gente hoje tá vendo generais e almirantes no banco dos réus, coisa que a gente nunca tinha visto”, afirmou. Na sua leitura, o avanço do processo expõe as marcas de um projeto político que, dentro e fora do Brasil, ataca ciência, educação, saúde e cultura. “A extrema direita é um dispositivo de destruição de países”, disse.

O convidado situou o julgamento no tabuleiro geopolítico. Criticou o isolacionismo estadunidense e a retórica de guerra, citou o ataque a uma embarcação venezuelana e classificou de falsa a narrativa antidrogas. “Estados Unidos é o maior consumidor de droga do planeta”, declarou. Para Leitão, impérios em declínio elevam o nível de agressividade, o que reforça a necessidade de o Brasil proteger seus interesses estratégicos e minerais, com respostas políticas e diplomáticas consistentes.

Ao falar da imprensa, Leitão recordou ações performáticas com o trompete e um episódio em Brasília. Segundo ele, a Globo instalou uma redoma de vidro para impedir que o som interferisse em entradas ao vivo. Citando Leonel Brizola, provocou com uma imagem dura do papel histórico da emissora. Na avaliação do ativista, a construção de agendas favoráveis ao mercado e a criminalização de projetos populares moldaram a cobertura do período.

A conversa tratou também da figura de Lula. Leitão descreveu o presidente como ativo político central do governo e liderança de escala global. “Presidente Lula é hoje quase como mestre dos magos”, disse, elogiando a escolha do Planalto de não interferir no curso do julgamento e de sustentar, por meio de política externa e comunicação, uma ideia de soberania que ganhou força em 2025. Em tom bem-humorado, atribuiu a Lula carisma e raciocínio rápido, e voltou ao tema das disputas no Congresso para defender que o governo avance em medidas sociais apoiado por uma base mobilizada.

O convidado conectou o debate brasileiro a experiências latino-americanas. Diferenciou o modelo venezuelano do brasileiro, argumentou que a riqueza do petróleo, na Venezuela, seria direcionada a políticas públicas e, no Brasil, capturada em grande parte pelo mercado financeiro. Relatou viagens, anunciou que pretende ir a Cuba e defendeu mais formação política. Em um trecho de forte identidade militante, lembrou o ato anual de 4 de julho, quando toca A Internacional na porta da embaixada dos Estados Unidos.

A entrevista também abordou a conjuntura partidária. Ao ser questionado sobre a nova composição da direção do PT, Leitão reconheceu divergências internas, mas disse ver o partido em processo de maioridade política. Manifestou confiança na habilidade de Lula para atravessar crises, reorganizar o governo e redefinir prioridades, inclusive na comunicação. “Se tem um ministério importante é a comunicação”, argumentou, defendendo um modelo de pauta diária mais ativo.

Em diálogo com a audiência, a apresentadora situou o ambiente do julgamento, comentou a cobertura internacional e ironizou a dificuldade de parte da imprensa estrangeira para explicar a cena de um trompetista em frente à casa de Bolsonaro. Leitão, por sua vez, atribuiu ao bolsonarismo a mistura de covardia e contradição. “Ele ridiculariza os próprios eleitores e não tem coragem de assumir o que fez”, disse, ao avaliar a estratégia de defesa do ex-presidente.

No fim, prevaleceu a imagem de um país em acerto de contas com o golpismo, com a militância atenta e com um governo pressionado a traduzir a palavra soberania em políticas concretas. Entre a memória das ruas e a liturgia das instituições, o som do trompete virou síntese de um tempo em que a democracia brasileira é testada ao vivo e em rede.

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