Com parlamentares a bordo, a travessia ganha peso diplomático e escancara a urgência de um corredor humanitário para Gaza
A presença da deputada Luizianne Lins na Flotilha Global Sumud elevou o patamar político de uma iniciativa que já mobiliza 44 países, dezenas de embarcações e milhares de apoiadores. A missão navega em águas internacionais rumo à Faixa de Gaza, sob assédio constante, para abrir na prática um corredor humanitário, entregar suprimentos básicos e romper o bloqueio informacional que sustenta a guerra contra a população palestina.
As informações foram apresentadas no programa Democracia no Ar, da Rádio e TV Atitude Popular, em entrevista com Natália Araújo, jornalista e assessora de comunicação do Núcleo Palestina do PT, com comentários do pesquisador e jornalista Reynaldo Aragon.
Segundo Natália, a flotilha se mantém em águas gregas durante a noite, por segurança, e avança durante o dia pelo Mediterrâneo, sempre vigiada por drones e submetida a intimidações como explosões no mar, substâncias irritantes e sabotagens radiofônicas. Ela destacou que a carga material é importante, porém o objetivo maior é simbólico, abrir um canal permanente entre Gaza e o mundo, reduzindo a capacidade de Israel impor o isolamento. Em suas palavras, a flotilha é a resistência da humanidade.
A presença de uma parlamentar brasileira, que já foi prefeita de Fortaleza, altera o cálculo diplomático. De acordo com Natália, a cada ameaça o Itamaraty tem reagido com notas públicas, acionando embaixadas e mantendo contato direto com a coordenação da missão. A Espanha, que reconhece o Estado da Palestina, despachou uma fragata para acompanhar a rota, sinal de que a disputa deixou de ser apenas humanitária para ganhar contornos de direito do mar e soberania. A Itália também deslocou navio para suporte médico. Para a entrevistada, esse respaldo, somado ao acompanhamento público e à transmissão em tempo real, eleva o custo de uma agressão e amplia as chances de sucesso.
Reynaldo Aragon ressaltou que, mesmo com dezenas de barcos, a flotilha não supre as necessidades de Gaza. O diferencial é político, transformar uma chegada às praias palestinas em ponto de inflexão, obrigando governos a assumir posições claras. Ele observou que qualquer ataque a cidadãos brasileiros tornaria incontornável a escalada diplomática, com efeitos na relação do Brasil com Israel.
A entrevistada descreveu a logística de proteção e a disciplina da missão. As embarcações se reagrupam em pontos seguros, estudam rotas, mantêm protocolos para liberar parte das doações ao mar em caso de interceptação, de modo que as correntes levem barris com alimentos e medicamentos à costa. A comunicação do comitê internacional segue ativa em diferentes plataformas, com transmissões, boletins e um rastreador público que permite acompanhar a navegação.
No plano político, Natália enfatizou o sentido de sumud, termo árabe que expressa persistência serena. Para ela, a travessia não é um gesto de luto, é uma ação afirmativa, alegre e coletiva, que carrega alimento, remédio e, sobretudo, o compromisso de milhões de pessoas com o fim do massacre. Nas palavras de Natália, todos querem chegar a Gaza, é tudo ou nada.
O Brasil, lembrou Aragon, enfrenta pressões para romper relações com Israel, o que exige cálculo de soberania tecnológica e de defesa. Mesmo assim, a posição do governo, com notas sucessivas e apoio consular, alinha o país ao esforço global por um corredor humanitário. A participação de Luizianne Lins, que vem relatando o cotidiano da viagem, coloca o Ceará no mapa dessa diplomacia de corpos, prática em que representantes eleitos assumem risco real para proteger civis.
A mensagem que emerge da entrevista é clara, ampliar a vigilância pública, fortalecer o financiamento de mídias populares e multiplicar a difusão das informações oficiais da flotilha nas próximas horas. Para Natália, quanto maior a pressão civil, maior a chance de ver o Mediterrâneo se abrir para a chegada humanitária. A vitória começa quando o mundo vê
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