Da Redação
Em entrevista à TV Atitude Popular, lideranças do Nordeste defendem os colegiados como estratégia de reconstrução democrática e sustentação da vida
A entrevista veiculada pela TV Atitude Popular no programa Bancos da Democracia reuniu três vozes fundamentais do campo popular nordestino: Márcia Dornelles (Rede Nacional de Colegiados Territoriais da Paraíba), Alzira Medeiros (Frente de Economia Solidária de Pernambuco) e Mazinho (Rede Nacional de Colegiados Territoriais da Bahia). Com mediação da jornalista Sara Goes, o diálogo escancarou a potência transformadora dos colegiados territoriais e sua articulação com práticas de economia solidária, agroecologia, cultura popular e resistência institucional.
A entrevista veiculada pela TV Atitude Popular no programa Bancos da Democracia reuniu três vozes fundamentais do campo popular nordestino: Márcia Dornelles (Rede Nacional de Colegiados Territoriais da Paraíba), Alzira Medeiros (Fórum da Economia Solidária de Pernambuco) e Mazinho (Rede Nacional de Colegiados Territoriais da Bahia). Com mediação da jornalista Sara Goes, o diálogo escancarou a potência transformadora dos colegiados territoriais e sua articulação com práticas de economia solidária, agroecologia, cultura popular e resistência institucional.
A entrevista foi marcada por relatos pessoais profundamente enraizados em histórias de luta, ancestralidade e reinvenção. Márcia Dornelles iniciou a conversa trazendo sua trajetória como mulher preta, filha de agricultora familiar, neta de mulher nascida sob a Lei do Ventre Livre. “Minha mãe subia no tamborete pra esquentar comida na casa dos patrões. Eu fui a primeira mulher da família a entrar na universidade. E hoje estou aqui, no território da Zona da Mata Norte da Paraíba, construindo política pública com os meus.”
Para Márcia, o território é o espaço onde a política se materializa com base na escuta, na diversidade e na co-gestão entre Estado e sociedade. “Não se faz política pública a partir do gabinete. Ela nasce do chão, da escuta dos pescadores, dos indígenas, das marisqueiras, dos povos de terreiro, das pessoas com deficiência, de quem vive o território. O colegiado é esse espaço de escuta coletiva e de decisão compartilhada.”
Alzira Medeiros, por sua vez, defendeu a economia solidária como forma histórica e ancestral de organização da vida. “O quilombo já era economia solidária. O inimigo, quando queria destruir, começava pelas plantações. Hoje, o que está em jogo é a permanência da vida no território. E isso não se faz com comodato de 50 anos para eólica, se faz com política pública, agroecologia e justiça social.”
Ela também destacou que o território não se limita ao traçado institucional do Estado: “A caatinga não é um recurso, é um modo de vida. O mutirão, o cordel, a busca pela água, tudo isso são práticas econômicas e culturais de resistência. A economia solidária não é resposta à pobreza, é construção de uma outra economia, voltada para o bem viver.”
Mazinho, coordenador da Rede Nacional de Colegiados Territoriais, enfatizou a abordagem territorial como uma das mais importantes inovações da gestão pública brasileira no século XXI. “O colegiado junta o que a democracia representativa não dá conta. É ali que o município, o estado, o governo federal e a sociedade civil se encontram. E é ali também que o povo se reconhece, se representa e se protege.”
Ele destacou que os colegiados resistiram mesmo nos sete anos de apagamento das políticas públicas. “Se hoje o Nordeste é referência de organização popular, é porque resistimos juntos. O Fórum de Secretários da Agricultura Familiar, o Consórcio dos Governadores e os colegiados foram trincheiras democráticas.”
A entrevista abordou ainda os impactos diretos da guerra comercial global sobre os territórios. Um exemplo citado foi o tarifaço de Donald Trump, que desorganizou a cadeia produtiva do mel no Piauí. “Um território levou anos para construir sua vocação produtiva. Um homem lá de fora, por interesse político, destrói tudo em segundos. E são as pessoas do território que vão ter que reconstruir do zero”, lamentou Sara Goes.
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