Professor Nelson Campos revisita 1822, 1889, 1930, 1937, 1964 e 1969 e defende punição aos golpistas de 8 de janeiro
No Café com Democracia, apresentado por Luiz Regadas, o professor Nelson Campos, mestre em Educação pela UFC, propôs um fio histórico para entender o presente, a extrema direita no Brasil opera por golpes e tentativas de golpes mais frequentemente do que se admite. Na abertura, ele resumiu, “a história do Brasil é muito mais história de golpes, de períodos autoritários, do que períodos democráticos”.
A matéria tem como fonte a entrevista exibida no Café com Democracia, da TV Atitude Popular. A conversa abordou da Independência a 8 de janeiro, com paradas em 1889, 1930, 1937, 1964, AI 5 e a junta de 1969, e com um ponto de partida conceitual, “se houve a ruptura com o Estado legal de direito, isso se chama golpe de Estado, não é questão de achismo, houve ou não houve”.
Campos começou distinguindo Estado, soberania e autonomia, “só se forma Estado quando uma nação tem território próprio sobre o qual possa exercer governo com soberania”, em seguida ligou soberania à conjuntura, “daí a preocupação do atual governo de defender a soberania nacional devido à pressão exercida pelos Estados Unidos, com a tutela e o incentivo de golpistas de extrema direita que estão lá conspirando contra a soberania brasileira”.
Ao revisitar 1889, o professor foi taxativo, “o que foi a Proclamação da República, foi golpe de Estado, e por trás disso você encontra sempre militares”. Sobre Deodoro e Floriano, recorreu ao texto constitucional da época, “Deodoro tentou fechar o Congresso sem amparo, houve a Revolta da Armada, ele foi deposto, Floriano não convocou novas eleições como mandava a Constituição de 1891, isso dá nome a golpe de Estado”.
No ciclo de Vargas, a chave interpretativa se repetiu, “1930 foi outro golpe de Estado, e 10 de novembro de 1937 Getúlio dá o golpe do Estado Novo, golpe não é só para derrubar, pode ser para manter quem está no poder e não quer sair”. Do regime civil militar, destacou dois marcos, “em 13 de dezembro de 1968 tivemos o Ato Institucional número cinco”, e “em 1969, com o presidente impossibilitado, quem deveria assumir era o vice civil Pedro Aleixo, não assumiu, como é que se dá o nome a isso, golpe militar”.
O presente entrou na pauta pela definição, “ele já vinha fazendo campanha contra o processo eleitoral, ‘só aceito o resultado das urnas se eu sair vitorioso’”, disse Campos sobre Jair Bolsonaro, para concluir, “é o caso agora do Bolsonaro que tentou dar golpe, não conseguiu e agora está em prisão domiciliar”. Sobre a lógica da impunidade, afirmou, “quando o golpe fracassa, temos anistia, e é isso que o Bolsonaro quer, sempre querem ficar absolutamente impunes”.
A entrevista incluiu críticas à radicalização de figuras públicas, “dos grandes problemas da humanidade se chama Donald Trump, esse cara é estúpido, absolutamente estúpido”, e um alerta sobre oportunismos locais, “o Tarcísio está querendo assumir esse lado bolsonarista de radicalismo, diz ele, não confio na justiça do país, como é que o sujeito quer ser presidente se não confia na justiça”.
Campos também recusou generalizações fáceis, separando instituições de indivíduos, “as Forças Armadas são uma instituição de Estado, não é de governo”, e o mesmo raciocínio vale para o Parlamento, “existem congressistas bem atuantes em defesa dos interesses populares, quando você diz o Congresso é contra o povo, você generaliza e erra”. No campo conceitual, recuperou a origem das etiquetas políticas, “ser de direita é representar as classes dominantes, proprietárias dos meios de produção, ser de esquerda é representar os interesses populares”.
Ao tratar de economia política, o professor recorreu a uma distinção didática, “dinheiro é a representação monetária de valor, capital é investimento com finalidade lucrativa, efeito multiplicador, gerador de lucro”, e provocou, “se estiver no bolso não é capital”. Na discussão sobre financiamento público e regressividade tributária, mirou os privilégios, “os banqueiros são parasitos, controlam o Tesouro, grande parte da arrecadação de impostos do Brasil é para pagar os juros da dívida”.
As manifestações de 7 de setembro e o julgamento dos atos golpistas foram lidos como um teste institucional, “vamos esperar que as leis sejam cumpridas”, disse Campos, antes de voltar ao ponto de fundo, punição desestimula a normalização do golpismo. Ao fim, deixou uma bússola de linguagem, “sou muito exigente com o significado das palavras, quando você fala extrema, isso significa radicalismo”.
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