Atitude Popular

A tripartição de poderes e a crise de legitimidade no Brasil contemporâneo

Professor Nelson Campos critica Congresso submisso ao mercado e alerta para ameaças golpistas disfarçadas de legalidade parlamentar

Ra Redação

No programa Café com Democracia, transmitido pela TV Atitude Popular e retransmitido por diversas rádios comunitárias do Nordeste, o professor Nelson Campos, mestre em educação pela Universidade Federal do Ceará, traçou uma linha do tempo da formação do Estado brasileiro para contextualizar a atual crise entre os Poderes da República. A entrevista, concedida a Luiz Souza, teve como foco os conflitos recentes envolvendo o Legislativo, o Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal, em meio ao agravamento das tensões institucionais provocadas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“A maior parte do Congresso é constituída por pilantras”, afirmou o professor, ao comentar a fragilidade do Legislativo diante do poder econômico e da manipulação religiosa. Para ele, o Brasil vive hoje o resultado direto da erosão da educação crítica e do crescimento de bancadas corporativas dominadas por interesses privatistas. “O Congresso virou uma máquina de produzir leis para o mercado financeiro, o agronegócio e os pastores evangélicos”, disse, citando como exemplo o avanço de propostas que buscam limitar a atuação do STF e blindar parlamentares aliados do bolsonarismo.

Durante sua exposição, Nelson Campos revisitou o pensamento de autores iluministas como Montesquieu e Rousseau para explicar a origem da ideia de separação dos poderes, contrapondo-a ao absolutismo que marcou boa parte da história ocidental. Segundo ele, o princípio da tripartição, que visa impedir a concentração de poder e o autoritarismo, está sob ameaça no Brasil atual, onde “se tenta inverter a lógica democrática, transformando o Judiciário em alvo quando este age para conter o golpismo”.

Ao criticar a tentativa de normalizar a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, Campos foi direto: “Anistiar golpistas é ameaçar de novo o STF. É uma chantagem institucional”. Ele também comentou a relação de submissão entre parte da população e seus representantes, classificando-a como sintoma de uma cultura política baseada na ignorância e na manipulação: “O sujeito vota em corrupto e depois reclama do Supremo. Falta capacidade crítica, falta educação”.

O professor comparou o momento atual com outros períodos autoritários da história brasileira, especialmente a ditadura militar e o Estado Novo de Vargas. Para ele, há uma tentativa de reeditar o poder moderador de forma informal, via chantagens parlamentares e instrumentalização de pautas religiosas. “Hoje, quem manda não são mais os senhores feudais nem os imperadores, mas os donos de banco, os CEOs e os pastores midiáticos. E eles têm bancada própria no Congresso”, ironizou.

Em tom indignado, criticou a ausência de punição para envolvidos em manipulações cambiais e ataques econômicos ao país, como a recente valorização artificial do dólar após os anúncios tarifários de Donald Trump. “Alguém ganhou bilhões com informação privilegiada. Isso precisa ser investigado. É sabotagem ao país com a conivência de setores internos”, denunciou.

Ao final do programa, Campos ainda comentou com sarcasmo o recuo humilhante de Bolsonaro, que agora aceita usar tornozeleira eletrônica após anos de insultos ao Supremo. “Chamou Moraes de crápula, agora se ajoelha e ainda quer voltar em 2026. A cara de pau é um traço essencial do fascismo”, concluiu.

A entrevista serve como alerta para a sociedade brasileira sobre o esvaziamento do sentido da representação política e os riscos de uma nova onda autoritária, agora revestida de verniz legal e linguagem institucional. Como destacou o professor, “só o povo pode defender a democracia, mas precisa primeiro deixar de ser gado”.

Assista em: https://www.youtube.com/TVAtitudePopular