Psicóloga Andréa Autran alerta para os impactos da exposição precoce de crianças, fenômeno potencializado pelas redes sociais, e defende a responsabilidade coletiva na proteção da infância
O programa Café com Democracia, da TV Atitude Popular, recebeu nesta semana a psicóloga Andréa Autran, coordenadora da Casa da Criança e do Adolescente. Em entrevista a Luiz Regadas, ela analisou o fenômeno da adultização e seus impactos na saúde mental, trazendo reflexões históricas, sociais e jurídicas sobre como a infância tem sido encurtada e distorcida no Brasil contemporâneo.
Segundo Andréa, a adultização não é um tema novo, mas ganhou visibilidade após a circulação de vídeos recentes nas redes sociais. “A mídia tem esse papel de jogar luz sobre problemas que já existiam, mas que só passam a ser debatidos quando viralizam”, observou.
A construção histórica da infância
A psicóloga explicou que o conceito de infância é uma construção social relativamente recente. “Na Idade Média não havia distinção, as crianças eram vistas como pequenos adultos, integradas ao trabalho e à lógica social desde cedo. Só a partir dos séculos XVII e XVIII, com pensadores como Locke e Rousseau, é que surgiu a ideia da criança como sujeito que precisa de proteção”, contextualizou.
No Brasil, lembrou Andréa, a consolidação desse olhar se deu apenas no século XX, com a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e, mais tarde, com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ainda assim, ela aponta que a desigualdade social perpetuou práticas de adultização, especialmente entre os mais pobres, obrigados a trabalhar cedo.
Internet e monetização da infância
Para a convidada, a internet trouxe novas formas de adultização, marcadas pela exposição da intimidade das crianças. “Hoje vemos uma banalização, em que os próprios pais trocam a proteção por likes. Essa monetização da infância é um retrocesso simbólico porque nega à criança o direito de se desenvolver naturalmente”, afirmou.
Ela ressaltou que a lógica das redes sociais coloca meninos e meninas em uma vitrine global, muitas vezes submetendo-os a erotização precoce, exploração sexual e até chantagens virtuais. “Não é só o like. Existe uma economia por trás que transforma crianças em mercadoria, seja em vídeos de dança, em transmissões ao vivo ou em influenciadores mirins”, destacou.
Saúde mental e riscos sociais
O impacto desse processo, segundo Andréa, é profundo e atinge tanto a saúde psíquica quanto o tecido social. Crianças expostas à adultização, explicou, podem desenvolver depressão, automutilação, dependência de drogas ou reproduzir comportamentos violentos. “Uma criança que não é protegida pode crescer incapaz de confiar e de criar vínculos, o que abre espaço para transtornos de personalidade e maior vulnerabilidade ao crime organizado”, alertou.
Ela reforçou que a sociedade precisa encarar a proteção da infância como responsabilidade coletiva, citando práticas tradicionais dos povos originários. “A criança não é só do pai e da mãe, é da comunidade. Quando há violação, cabe a todos denunciar e agir”, disse.
O dever de denunciar
A psicóloga lembrou que a legislação brasileira é clara ao classificar como violência sexual não apenas o ato físico, mas também a exposição de crianças a conteúdos, roupas e coreografias inadequadas. “Quando uma criança é erotizada na mídia, estamos diante de uma violação de direitos. E o silêncio da sociedade é cúmplice”, acrescentou.
Ela fez ainda um apelo direto aos pais: “Não banalizem. Por mais que pareça inofensivo publicar fotos e vídeos de seus filhos, essa exposição pode gerar um sofrimento invisível, que às vezes se traduz em automutilação ou em transtornos graves. É preciso acompanhar, orientar e, acima de tudo, proteger”.
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