Atitude Popular

“Alexandre de Moraes arranca a máscara de Jair Bolsonaro”

O que aconteceu é histórico, mas o noticiário ainda esconde o essencial

O quadro A notícia que você não vê voltou à tela na primeira sexta do mês e mergulhou no subtexto do noticiário político. O debate reuniu a jornalista e pesquisadora Eliara Santana e a filósofa e professora Sandra Helena, desta vez como convidada especial, no Democracia no Ar, apresentado por Sara Goes, com transmissão da Rádio e TV Atitude Popular

Com base na conversa ao vivo, Eliara e Sandra analisaram a semana do julgamento que marcou a condenação de Jair Bolsonaro e de militares de alta patente, destacando a diferença entre a imagem dominante nos telejornais e o que realmente estrutura os acontecimentos. Eliara sintetizou o espírito do programa ao avaliar o voto do relator no Supremo Tribunal Federal. “Alexandre de Moraes desconstrói Jair Bolsonaro. Ele arranca a máscara”, disse, ao enfatizar a cronologia dos fatos apresentada pelo ministro e a posição do ex-presidente no centro da organização criminosa descrita no processo

Para Eliara, o caráter histórico não se resume ao destino do ex-presidente. “A condenação de generais estrelados, num país que sempre varreu tudo para debaixo do tapete, é histórica”, afirmou. Ela conectou o julgamento a um ciclo que se iniciou no fim de 2014, lembrando a escalada que culminou no impeachment de Dilma Rousseff e na prisão de Lula. “Não é revanche, é justiça”, disse, mencionando também a memória das vítimas da Covid e o impacto do discurso golpista nas ruas e nas redes

Sandra Helena reforçou o sentido de clivagem do momento. “O que aconteceu ontem é realmente histórico”, avaliou. A filósofa observou como a televisão modulou a percepção pública ao longo da semana e pontuou mudanças de tom em coberturas específicas, citando a euforia de defensores de Bolsonaro no dia do voto de Luiz Fux. Também chamou atenção para fatos que ficaram à margem do destaque, como o incêndio de banheiros químicos em Brasília e a tentativa de invasão do Palácio do Planalto, episódios que, na avaliação dela, indicam um ambiente de tensão permanente

O programa contrastou estilos e estratégias dos votos no Supremo. Eliara ressaltou o didatismo de Alexandre de Moraes, que optou por expor a sequência de decisões e reuniões que conformaram a tentativa de golpe. Sandra comentou a atuação de Flávio Dino, cuja intervenção direta durante o voto divergente foi lembrada pela pergunta que virou síntese do impasse jurídico e político, “então Mauro Cid é culpado e Bolsonaro não”, formulada em tom sereno e incisivo no plenário. As duas destacaram a velocidade com que Cármen Lúcia ajudou a virar a página do embate ao condensar um voto longo em uma exposição firme e objetiva, permitindo avançar para a dosimetria

Na outra ponta, o voto de Luiz Fux foi lido como peça frágil e desconexa. “Aquilo foi uma colcha de retalhos”, disse Sandra, apontando citações deslocadas e mudanças de posição em poucos meses, da defesa de março à defesa de nulidade agora. Eliara observou que a peça não conversa consigo mesma e que a guinada exigirá explicações futuras, além de efeitos políticos imediatos para a narrativa bolsonarista de perseguição

A notícia que você não vê, como indica o nome do quadro, também deslocou o foco para o que a mídia tradicional costuma silenciar. “A notícia que você não vê nos portais é o sofrimento do povo palestino”, afirmou Sandra, ao lembrar vídeos feitos com celulares, a escalada de ataques e a ausência de empatia televisiva diante de uma catástrofe humanitária. O debate se estendeu ao cenário internacional recente, com menção a episódios violentos no Nepal e ao assassinato transmitido ao vivo nos Estados Unidos, e à forma como esse pacote de acontecimentos é imediatamente absorvido por influenciadores de extrema direita para justificar escaladas retóricas

Eliara trouxe ao estúdio a leitura dos editoriais dos dois principais jornais do país para mostrar como parte da imprensa tenta recompor parâmetros após o julgamento. O Globo falou em honra à Constituição e à democracia, enquanto a Folha classificou a condenação como justa e considerou as penas altas. A comparação, segundo a jornalista, é indício de que os conglomerados ainda tateiam a relação com Tarcísio de Freitas e com a recomposição de forças à direita

Na conclusão, as convidadas projetaram um cenário de disputa permanente. Para Sandra, “conquistar e manter” é a lição estratégica do momento, em referência à necessidade de ampliar alianças, sustentar vigilância democrática e fortalecer o campo popular diante do previsível contra-ataque. Eliara encerrou lembrando que a democracia amadurece quando enfrenta os próprios fantasmas e pune seus algozes. No ar, ficou a ideia de que a semana não fecha um livro, mas muda o capítulo, com a responsabilidade de contar o que não costuma aparecer no espelho do horário nobre

https://www.youtube.com/watch?v=WUvV2Q9Z0RA

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