Da Redação
O diplomata e assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, declarou neste sábado que embora exista um clima de otimismo nas negociações entre Brasil e Estados Unidos, esse momento exige cuidado, prudência e uma postura clara de soberania nacional. Ele afirmou que “o gelo foi quebrado” nas conversas, mas que isso não significa que todos os problemas foram resolvidos — e reforçou que o Brasil deve manter “realismo e cautela” ao tratar com a administração norte-americana.
O contexto das negociações bilaterais
Em 2025, as relações entre Brasil e EUA atravessam uma fase sensível. Após uma série de medidas unilaterais impostas por Washington — incluindo tarifas elevadas sobre produtos brasileiros — o Brasil lançou uma agenda de diversificação comercial e diplomática, aproximando-se ainda mais dos BRICS, da América Latina e de parceiros estratégicos na Ásia e África.
Amorim reconheceu que há “um momento de otimismo em relação ao diálogo com os EUA”, mas lembrou que os sinais iniciais precisam ser confirmados por acordos concretos que respeitem a autonomia brasileira. O assessor afirmou que houve uma “retomada do diálogo” e um certo “restabelecimento de respeito mútuo”, mas destacou que este é apenas o “primeiro passo”.
Segundo suas palavras, “o momento exige realismo e cautela”, pois “a relação bilateral tem sido marcada por desconfiança e rupturas” — e o Brasil não pode se deixar levar por expectativas otimistas sem salvaguardar seus interesses nacionais.
Principais alertas de Amorim
Amorim apontou algumas linhas de atenção que o Brasil deve manter ao avançar nas negociações:
- Soberania e reciprocidade: qualquer acordo com os Estados Unidos deve preservar os interesses estratégicos e econômicos do país.
- Evitar ilusões diplomáticas: o simples retorno do diálogo não garante que as demandas brasileiras serão atendidas.
- Proteção a setores sensíveis: áreas como tecnologia, inteligência artificial, regulamentação de plataformas digitais, agroindústria, mineração e meio ambiente devem ser negociadas com transparência e salvaguardas.
- Diversificação de parceiros: o Brasil deve seguir sua estratégia de não-alinhamento automático, mantendo relações consistentes com China, Rússia, Índia e países africanos.
Impactos práticos para o Brasil
O posicionamento de Amorim indica que o governo brasileiro pretende seguir uma linha de equilíbrio: manter o canal de diálogo aberto com Washington, mas sem concessões apressadas. Isso tem implicações diretas:
- Garante ao setor produtivo que o governo defenderá seus interesses de forma soberana.
- Transmite ao mercado internacional um sinal de estabilidade e estratégia de longo prazo.
- Reforça a imagem do Brasil como país autônomo e pragmático, disposto a negociar, mas não a se submeter.
Riscos e desafios
Apesar do tom diplomático, Amorim deixou claro que o cenário é complexo. O Brasil não parte de terreno neutro — há histórico de atritos com os EUA, especialmente em áreas de tecnologia e comércio. Reatar relações em termos equilibrados exige paciência, habilidade e firmeza.
Outro desafio é lidar com a pressão interna e externa: setores empresariais e políticos esperam resultados rápidos, enquanto Washington buscará avanços em temas sensíveis, como o controle de dados, propriedade intelectual e acesso a recursos estratégicos. Amorim alertou que o país deve resistir a qualquer tentativa de imposição disfarçada de cooperação.
Conclusão
As declarações de Celso Amorim expressam com clareza a linha mestra da política externa brasileira sob o governo Lula: diálogo sem submissão, pragmatismo sem dependência. O assessor reforça que o Brasil não deve alimentar ilusões sobre a natureza das negociações com os Estados Unidos, mas tampouco deve fechar portas.
Para Amorim, “o diálogo foi retomado, mas ainda estamos no início”. O diplomata acredita que o país deve agir com sabedoria estratégica, entendendo que o respeito internacional nasce da firmeza interna.


