Da Redação
Centrista Rodrigo Paz lidera votação, deixando o MAS com apenas 3 %, enquanto ex‑presidente Quiroga avança. Bolívia entra em nova era política com segundo turno em outubro.
Na histórica eleição realizada em 17 de agosto de 2025, a Bolívia protagonizou uma virada política tão dramática quanto inesperada. Após duas décadas de controle político do Movimiento al Socialismo (MAS), o país enfrentou uma derrota monumental da esquerda, com um cenário que coloca em xeque sua estabilidade e redefine rumos geopolíticos.
O senador centrista Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão (PDC), emergiu como o grande vencedor do primeiro turno, alcançando cerca de 32 % dos votos válidos — posicionando-se como uma alternativa moderada e distante do MAS. Já o conservador Jorge “Tuto” Quiroga, ex-presidente e líder da aliança Libre, ficou em segundo lugar com cerca de 27 %, garantindo vaga no segundo turno, marcado para 19 de outubro de 2025. Nenhum candidato atingiu os 40 %, ou 40 % com 10 pontos de vantagem, o que confirma a disputa acirrada pelo poder.
O MAS sofreu seu pior desempenho em gerações, com o candidato Eduardo del Castillo obtendo apenas 3 %, o que evidencia um desinteresse popular sem precedentes pelo partido que dominou a política boliviana desde 2006. Essa derrota foi impulsionada por uma combinação letal de fatores: disputa interna entre Evo Morales e o presidente Luis Arce, crise econômica severa com inflação que dobrou para mais de 23 %, escassez de combustíveis, alimentos e dólares, além do crescente desgaste social e institucional.
Adicionalmente, o boicote sugerido por Evo Morales — que inclusive pediu votos nulos — teve forte adesão, contribuindo para uma taxa de votos nulos de aproximadamente 19 %, recorde que reflete o descontentamento generalizado da população com a política tradicional do MAS.
A votação, em sua maioria, foi realizada com normalidade, conforme relatado por observadores internacionais, embora tenha havido ocorrências pontuais de tensão, sobretudo em Cochabamba, região fortemente alinhada ao MAS. Com o resultado, o mapa político do país muda por completo: o Parlamento será liderado pelos partidos centrais e conservadores, eliminando a hegemonia legislativa que o MAS mantinha há mais de 20 anos.
No plano internacional, a derrota do MAS e o avanço de uma onda centrista e conservadora abrem caminho para uma reaproximação da Bolívia com instituições econômicas multilaterais — o FMI e o Banco Mundial, sinalizados por Quiroga como prioridade imediata — e possivelmente um alinhamento econômico mais liberal.
O contexto é grave: a inflação voltou a patamares vistos há quatro décadas, e as reservas internacionais seguem em queda vertiginosa, exigindo medidas drásticas da próxima gestão.
Em resumo, com a esquerda desacoplada do suporte popular e uma nova força política ascendente, a Bolívia experimenta, pela primeira vez em sua história recente, a perspectiva real de refundar seu modelo econômico e institucional — com Rodrigo Paz prometendo descentralização, combate à corrupção e reformas econômicas, ao passo que Quiroga defende corte de gasto público e liberalização econômica.