Da Redação
Protestos em grande escala, rejeição à anistia e à PEC da blindagem, processo contra Eduardo Bolsonaro e elogio de Trump a Lula marcam período turbulento para a base bolsonarista.
Aliados de Jair Bolsonaro experimentam uma “semana-bomba”, expressão usada por parlamentares do PL, diante de uma sequência de eventos políticos que sacudiram a base e o discurso da direita no Brasil. Em menos de sete dias, uma combinação de protestos, reações dentro do partido e reaproximações diplomáticas abalou a articulação bolsonarista.
A crise começou com a aprovação do regime de urgência para votação da anistia a Bolsonaro e réus dos atos de 8 de janeiro e da chamada PEC da Blindagem — proposta que dificultaria investigações contra parlamentares. Essas pautas foram apresentadas de forma quase simultânea, gerando críticas até entre líderes do partido, que acusam a estratégia de fragilizar o discurso de coerência e independência da direita.
No domingo, manifestações contra essas propostas ganharam fôlego e surpreenderam pelo tamanho, superando eventos tradicionais convocados pelos bolsonaristas, como manifestações em 7 de setembro. Em São Paulo, por exemplo, milhares de pessoas se reuniram na Avenida Paulista cobrando o arquivamento da anistia e da blindagem.
Internamente, pressões se intensificaram. Na Câmara, líderes do PL como Sóstenes Cavalcante e Zucco, bem como o senador Rogério Marinho, foram alvo de queixas de colegas que culpam a direção do partido pela perda de controle narrativo. A articulação para livrar Eduardo Bolsonaro de cassação sofreu revés: sua designação como líder da minoria foi barrada pelo presidente da Casa, Hugo Motta. Além disso, o Conselho de Ética da Câmara aprovou a abertura de um processo contra ele, e ele também foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por suposta coação em relação a sanções nos EUA para interferir nos julgamentos que envolvem seu pai.
O golpe simbólico mais contundente, porém, veio do exterior: durante discurso na Assembleia Geral da ONU, Donald Trump elogiou Lula de forma inesperada. O presidente americano disse que teve uma “ótima química” com Lula, expressando uma admiração que surpreendeu a ala bolsonarista. Tradicionalmente aliado ao ex-presidente Bolsonaro, Trump quebrou o protocolo ao fazer elogios públicos ao adversário político brasileiro. O gesto provocou desconforto nos bastidores do PL, que já enxerga sinais de que a relação privilegiada com Trump pode estar sendo redirecionada para Lula.
Para a base bolsonarista, o aceno de Trump representa mais do que simples diplomacia: é uma ruptura simbólica de uma narrativa de liderança política no campo conservador. Aliados admitem que esse gesto pode abalar a estratégia de usar a imagem do ex-presidente como único interlocutor legítimo com Washington. Nas cúpulas do partido, fermenta-se o medo de que o relacionamento entre Trump e Lula avance, comprometendo tentativas de consolidar uma anistia ou outra manobra parlamentar que ainda dependa de capital político externo.