Das Redação
Mensagens da Polícia Federal revelam que Jair Bolsonaro autorizou a entrega de proxalutamida — substância sem registro na Anvisa — a aliados, em discussão que envolveu pastores, parlamentares e empresários.
Mensagens obtidas pela Polícia Federal a partir de celulares do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, mostram que o ex-mandatário autorizou pessoalmente a distribuição de proxalutamida — um fármaco sem registro na Anvisa e proibido no Brasil — a aliados durante a pandemia de covid-19.
Os diálogos revelam que Bolsonaro exercia supervisão direta sobre a entrega do remédio a pastores, parlamentares, empresários e famílias de aliados, entregando ordens como “Mande a proxalutamida” em resposta a pedidos. Em um dos episódios, questionado sobre o envio para um pastor internado, Bolsonaro simplesmente respondeu: “Aguarde”, antes de autorizar o envio posteriormente.
A proxalutamida é um anti-andrógeno ainda em fase experimental, utilizado para pesquisas sobre câncer, sem eficácia comprovada para a covid-19, e jamais autorizado por agências como a Anvisa, FDA ou EMA. Estudos clínicos no Brasil foram autorizados inicialmente, mas a importação foi suspensa após irregularidades, especialmente quantidades muito superiores àquelas liberadas para pesquisa.
O Ministério Público Federal já instaurou investigação sobre o caso. Juristas consultados sugerem que a distribuição de medicamento não registrado pode configurar crime previsto no artigo 273 do Código Penal, com pena de 10 a 15 anos de reclusão. As defesas de Bolsonaro e de Mauro Cid preferiram não se manifestar.