Da Redação
O ministro Alexandre de Moraes determinou que a defesa de Jair Bolsonaro esclareça, em até 48 horas, o conteúdo de um documento de 33 páginas encontrado em seu celular — um rascunho de pedido de asilo político ao presidente argentino Javier Milei — em meio a indiciamentos por tentativa de golpe, obstrução de Justiça e risco de fuga.
Na noite desta quarta-feira, 20 de agosto de 2025, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro apresente — num prazo máximo de 48 horas — esclarecimentos sobre um documento encontrado no celular dele, que contém um rascunho de pedido de asilo político dirigido ao presidente argentino Javier Milei. Essa exigência foi motivada por indícios contundentes de descumprimento de medidas cautelares impostas pelo tribunal, além de múltiplas evidências de risco de fuga.
Conforme consta no relatório da investigação, o arquivo — com 33 páginas, sem data ou assinatura formal — estava salvo no aparelho de Bolsonaro desde 2024, e foi identificado logo após buscas e apreensões realizadas no âmbito de investigações sobre tentativa de golpe de Estado. O documento expressa temores por sua segurança e insinua perseguição política, oferecendo argumentos que, se formalizados, indicariam sua intenção de buscar refúgio nos Estados Unidos da Argentina.
Moraes ressaltou que o arquivo compõe um conjunto de condutas ilícitas repetidas, que incluem comunicação vedada com aliados, uso de perfis de terceiros nas redes sociais e instruções para disseminar conteúdo nas mídias digitais com o intuito de pressionar o tribunal. Ele instruiu a defesa a explicar todos esses atos, que somados configuram indícios claros de tentativa de obstrução de Justiça e elaboração de estratégia de evasão. O ministro também enviou os autos à Procuradoria-Geral da República (PGR), que terá o mesmo prazo para indicar se denuncia formalmente Bolsonaro e seu filho, deputado Eduardo Bolsonaro, por coação e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.
Essa medida segue um padrão crescente de confrontação institucional. A Polícia Federal já havia recuperado mensagens que revelam articulações para solicitar apoio de agentes estrangeiros — sobretudo no ambiente político dos EUA — e detalhes logísticos sobre evadir o Brasil em caso de efetivação das medidas de prisão. Nos bastidores, a defesa já se mobiliza para contestar as evidências e sustentar que tudo se trata de conjectura política.
Contexto e repercussões
- Inquérito do golpe: O processo investiga Bolsonaro e outros envolvidos por tentativas de desestabilizar o Estado após sua derrota eleitoral em 2022. Entre as acusações estão organização criminosa e tentativa de anular os poderes constitucionais.
- Busca de asilo: O documento em questão supostamente era guardado no celular como plano B ou sinal de intenção — e sua existência configura ainda mais gravidade diante da prisão domiciliar, proibição de contato com outros investigados e outras medidas cautelares.
- Risco diplomático: A tentativa de contato com Milei — um líder ultraliberal e aliado político — reforça a simbologia da fuga política. O governo argentino ainda não confirmou o recebimento do pedido.
- Implicações judiciais: A ordem urgente de Moraes é incomum em casos desse nível, denotando o temor de que Bolsonaro esteja arquitetando fuga. Isso também fortalece o ambiente institucional para acompanhar estritamente o cumprimento de normas processuais.
- Crise de credibilidade política: A revelação amplia a crise política e judicial que se desenha. O ex-presidente já enfrenta novas sanções, além de risco de novos processos ou agravamento das acusações existentes.