Atitude Popular

Brasil não vai parar sem o GPS dos EUA

Da Redação

Professor Carlos Grohmann, da USP, esclarece que país não depende exclusivamente do sistema americano e alerta contra desinformação

Em vídeo publicado pelo canal do SPAMLab, o Laboratório de Análise e Modelagem Espacial do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, o geofísico Carlos Grohmann desmente os boatos de que o Brasil entraria em colapso caso os Estados Unidos desligassem o GPS no contexto das atuais tensões diplomáticas. Segundo o professor, essa hipótese, além de tecnicamente imprecisa, é propagada com sensacionalismo por influenciadores que desconhecem o funcionamento dos sistemas de navegação por satélite.

“Se você escutou por aí que os Estados Unidos podem desligar o GPS do Brasil e isso causaria o caos, deixa eu te dizer uma coisa: não é bem assim”, afirma Grohmann logo na abertura do vídeo. A fala foi uma resposta direta a conteúdos que viralizaram nas redes, muitos deles com informações incorretas ou distorcidas sobre o funcionamento do sistema global de posicionamento.

Grohmann explica que o GPS é apenas uma das constelações de satélites que integram o GNSS (Global Navigation Satellite System), um conjunto global de sistemas que inclui também o GLONASS (Rússia), Galileo (União Europeia) e BeiDou (China). Hoje, a maioria dos receptores já opera de forma multiconstelacional, ou seja, captando sinais de diversas redes ao mesmo tempo. “Mesmo que os EUA desligassem o GPS, o que já seria improvável, não haveria esse caos todo que estão dizendo”, assegura.

O professor detalha a história e a tecnologia por trás desses sistemas. A ideia de triangulação com satélites remonta aos anos 1960, quando cientistas americanos perceberam alterações no sinal do Sputnik, o primeiro satélite lançado pela União Soviética. A partir dessa descoberta e de investimentos militares dos EUA, nasceu o GPS, cujo primeiro satélite da versão moderna foi lançado em 1978 com o nome NavStar.

Segundo Grohmann, o princípio é simples: “Os satélites enviam sinais com marcações de tempo. O receptor compara esses sinais para calcular sua distância em relação a cada satélite. Com pelo menos três deles, é possível determinar sua posição na Terra com precisão”.

Grohmann reforça que o sinal do GPS é aberto, global e contínuo. “Não é uma coisa que você liga e desliga só para um país. Para impedir o uso, seria necessário criptografar ou bloquear o sinal, o que afetaria usuários no mundo inteiro, inclusive americanos.” A operação do GPS é responsabilidade do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, mas seu uso civil é mundial.

A motivação do vídeo, segundo o professor, foi o grande volume de desinformação circulando nas redes. “Vi um corte de 15 segundos e já identifiquei vários erros. Isso me preocupou, porque são conteúdos que têm alcance enorme e podem criar pânico sem fundamento”, alertou.

Ao desmontar os boatos, Carlos Grohmann reafirma o papel da ciência pública como antídoto contra a desinformação em tempos de conflito e instabilidade. Em vez de reforçar a dependência de uma única tecnologia, o professor mostra que o Brasil e o mundo já operam com maior diversidade, autonomia e resiliência do que sugerem os alarmistas de plantão.