Atitude Popular

Carla Zambelli presa na Itália

A deputada federal licenciada, condenada a 10 anos de prisão por invasão de sistemas do CNJ, foi capturada em Roma após fuga internacional; diplomacia, cooperação policial e implicações jurídicas ganham destaque.

Da Redação

Nesta terça‑feira, 29 de julho de 2025, a deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL–SP) foi presa pela polícia italiana em Roma, encerrando cerca de quase dois meses de fuga internacional após ser condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de reclusão por crimes relacionados à invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Zambelli havia deixado o Brasil no início de junho, depois da condenação e da decretação de sua prisão preventiva pelo STF – à época, declarou que se dirigia à Itália, país de sua cidadania, onde se considerava “intocável”. No entanto, a Interpol emitiu alerta vermelho contra ela, e a Procuradoria-Geral da República requisitou sua prisão preventiva poucos dias após sua fuga.

Segundo o diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, a prisão foi fruto de uma cooperação internacional estreita entre a PF (via adidância em Roma) e a polícia italiana. O parlamentar italiano Angelo Bonelli, do grupo ambientalista, divulgou nas redes sociais que forneceu à polícia italiana o endereço do apartamento em Roma onde Zambelli estava escondida, e confirmou que a identificação da deputada ocorreu no local. Em sua publicação no X, ele afirmou:

“Carla Zambelli está em um apartamento em Roma. Dei o endereço à polícia … neste momento a polícia está identificando Zambelli.”

Fontes oficiais da PF desmentem que Zambelli tenha se entregado — ela teria sido presa em seu apartamento.

Contexto e antecedentes

Carla Zambelli ganhou notoriedade como fundadora do movimento Nas Ruas e posteriormente atuou na Câmara dos Deputados em pautas ultraconservadoras e alinhadas ao bolsonarismo. Em maio de 2025, o STF a condenou à pena de dez anos de prisão pelos crimes de invasão de dispositivo informático, falsidade ideológica e inserção de dados falsos no sistema do CNJ — ação que incluía um mandato de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, forjado por um hacker contratado por ela. Pouco depois, ela permaneceu no cargo com licença parlamentar por 127 dias, mas perdeu mandado e direitos políticos.

Além do caso do CNJ, Zambelli também responde a outro processo no STF por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal, por ter perseguido e apontado uma pistola para um cidadão durante as eleições de 2022 em São Paulo.

Cenário legal e diplomático

Embora Zambelli tenha cidadania italiana, a legislação daquele país não confere automaticamente imunidade à extradição de seus próprios cidadãos em casos internacionais. Casos anteriores, como o do ex-tesoureiro do PT Henrique Pizzolato, demonstraram que a Justiça italiana pode aceitar extraditar um cidadão com dupla nacionalidade, quando favorável à jurisprudência internacional.

Especialistas advertem que, mesmo que a extradição seja negada, as autoridades italianas podem optar por cumprir a condenação no próprio território, caso reconheçam a validade da decisão brasileira.

Desdobramentos esperados

  • Zambelli deverá ser detida formalmente e apresentada às autoridades brasileiras em Roma, palco inicial da cooperação jurídica.
  • O governo brasileiro já iniciou o processo formal de pedido de extradição, instruído pelos autos da condenação emitida pelo STF.
  • Caso a extradição seja aceita, Zambelli retornará ao Brasil para iniciar o cumprimento da pena em regime fechado.
  • Se a extradição for negada, é possível que a Itália abra processo para cumprimento da pena justamente em território italiano.
  • Internamente no Brasil, a Câmara dos Deputados poderá referendar sua cassação e confirmar a perda de mandato e direitos políticos, já decididos na maioria pelo TRE e STF.

Implicações políticas

A prisão de Zambelli ganha dimensão nacional e internacional. No Brasil, a ação marca a atuação do Judiciário contra figuras políticas envolvidas em casos de desinformação, crimes cibernéticos e atentados à ordem legal. Na Itália, evidencia a eficiência da cooperação entre países e órgãos internacionais, como a Interpol.

Adicionalmente, o caso reacende debates sobre os limites da imunidade diplomática e os tratamentos legais de cidadãos com dupla nacionalidade enfrentando processos criminais em mais de um país.