Da Redação
Fortaleza será palco, entre os dias 24 e 28 de agosto, do II Encontro Nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), considerado o maior evento já realizado no país para reunir comunidades atingidas pela atividade mineral. A expectativa é receber mais de duas mil pessoas na Universidade Federal do Ceará (UFC), campus do Pici, em uma programação que combina debates, atividades culturais e a construção de uma agenda política para o setor.
Debate sobre um novo modelo mineral
O encontro terá como tema “Lutar pelo território, controlar o subsolo” e reunirá indígenas, quilombolas, ribeirinhos, assentados, camponeses e moradores de áreas urbanas impactadas pela mineração. Também estão confirmadas delegações de trabalhadores do setor e representantes de organizações internacionais vindos de países como Peru, Bolívia, Chile, Cuba, Guatemala, México, África do Sul e Moçambique.
Segundo Karina Martins, da direção nacional do MAM, o objetivo central é questionar a lógica atual da exploração mineral. “O modelo mineral, do jeito que é operacionalizado, destrói a natureza, expulsa as pessoas de seus territórios, concentra toda a renda que teria que chegar ao povo brasileiro e nos deixa totalmente sem soberania. Por isso a importância desse segundo encontro nacional do MAM”, afirmou.
Ao final do evento, será lançada uma carta à sociedade com diretrizes para um modelo alternativo de mineração, defendendo o controle popular sobre o subsolo e a democratização da renda mineral.
Feira Cultural da Agrobiodiversidade
Paralelamente, será realizada a I Feira Cultural da Agrobiodiversidade, sempre das 18h às 23h, no mesmo local. A iniciativa destacará a força produtiva e cultural dos territórios ameaçados pela mineração, reunindo alimentos, bebidas e artesanatos da agricultura familiar, da agroecologia e de comunidades tradicionais.
“Esses territórios sempre foram produtivos. Antes mesmo da chegada da mineração, já havia vida, diversidade e fartura. São povos que continuam resistindo e produzindo com base em saberes ancestrais, pela força da agricultura familiar que alimenta o povo brasileiro”, disse Ingrid Sousa, do coletivo de produção do MAM.
A programação contará ainda com apresentações musicais de artistas locais e nacionais que trazem em suas composições temas ligados à resistência, à ancestralidade e à denúncia das violações provocadas por grandes projetos minerários. Para Gracinha Donato, da direção nacional do movimento, “a arte é a forma como as pessoas expressam seus sentimentos, seus modos de resistência, sua ancestralidade e demarcam seu posicionamento no mundo”.
Ceará como centro da disputa mineral
A escolha de Fortaleza para sediar o encontro não é casual. O estado se consolidou como uma das principais fronteiras de expansão mineral no Brasil, com mais de cinco mil pesquisas em andamento, que abrangem aproximadamente 4 milhões de hectares de território — o equivalente a 36% da extensão total do Ceará, segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM). O Nordeste, de forma mais ampla, tornou-se hoje o epicentro de disputas sobre soberania, modelo mineral e organização popular.
Serviço
II Encontro Nacional do MAM / I Feira Cultural da Agrobiodiversidade
Quando: 24 a 28 de agosto
Local: Universidade Federal do Ceará (UFC), campus do Pici
Horário: 8h às 17h (debates) e 18h às 23h (feira cultural)
Mais informações: João Victor (88) 98194-2254 e Márcio Zonta (98) 98156-1749