Atitude Popular

Charlie Kirk é lembrado em ato pomposo, mas sem apagar seu legado de ódio e radicalismo

Da Redação

Milhares comparecem ao memorial de Charlie Kirk nos EUA; embora seja saudado como mártir pelos conservadores, seu histórico revela enveredar por ideias supremacistas, islamofóbicas, homofóbicas e ataques sistemáticos contra grupos vulneráveis.

O memorial ao ativista conservador Charlie Kirk, ocorrido no último fim de semana, reuniu apoiadores próximos ao presidente Donald Trump e vice-presidente JD Vance, além de alas proeminentes da direita americana. O evento foi marcado por discursos de saudosismo político, fé religiosa e rígido antagonismo cultural com o que Kirk e sua base chamavam de “ideologia de esquerda”.

Mas nem tudo nos discursos foi saudação inócua: há de se mirar também sua trajetória, que distintos críticos chamam de autoritária, supremacista e extremista. Kirk não era apenas um agitador político: ele construiu sobre uma plataforma de exclusão, discursos de ódio e teorias conspiratórias que atacavam minorias, reforçavam fantasias de identidade branca sob ataque e apoiavam visões que muitos descrevem como cristianismo nacionalista.

Ele se opôs ferozmente a direitos LGBTQ, chamando cuidados para transgêneros de “agenda”, defendendo proibições, “juízos estilo Nuremberg” para profissionais de saúde que prestassem apoio a pessoas trans. Também economizava pouco em comentários críticos às políticas de ação afirmativa, acusava imigração de comprometer “os valores do Ocidente” e, em sua comunicação, reforçava a ideia de que culturas não-ocidentais eram incompatíveis ou ameaçadoras para civilizações consideradas “mais avançadas”.

Além disso, Kirk foi associado a teorias conspiratórias sobre fraude eleitoral, desinformação sobre pandemia e climático, e tensão contra muçulmanos, defensores de direitos civis, migrantes e professores universitários. Sua organização, Turning Point USA, também foi criticada por criar ambientes tóxicos para minorias, por acusações de islamofobia e por conduzir uma retórica que naturaliza o conflito cultural como guerra de valores.

Criticando o período de luto: por que esse memorial não cura o impacto

O funeral e o discurso midiático que o sucedeu servem para reafirmar seus seguidores sobre uma identidade política que mistura fé, exclusividade racial, moral conservadora e ressentimento cultural. São elementos que historicamente alimentam o supremacismo, o sectarismo religioso e retrógradas narrativas de superioridade. Celebrar uma figura como Kirk, sem confrontar seus excessos, é perigo para democracia que insiste em tolerar discursos discriminatórios como “opinião” legítima.

Há algo de profundamente simbólico em ver políticos de alta expressão, além de milhões de seguidores, chorando pela perda de um influenciador que sistematicamente cultivou divisões, alimentou medos, investiu no “nós contra eles”. Mourning Kirk é também reafirmar que essas divisões têm lugar na cultura pública — o que não é neutro nem sem consequências.


Conclusão

Charlie Kirk deixa de herança algo que não pode ser simplesmente saudado sem crítica: ele ajudou a normalizar a extrema -direita ligada à obesidade de discursos de supremacia branca, à negação de direitos para minorias, à retórica conspiratória. É fundamental distinguir luto de reverência cega.

Celebrar sua memória exige reconhecimento completo do seu impacto — inclusive o negativo. E esse reconhecimento é uma salvaguarda contra que figuras como essa sejam canonizadas sem escrutínio. Porque democracia não é só construir audiência ou frases de impacto: é responsabilidade pública, empatia, compromisso com universos inteiros de vidas marginalizadas que sofreram por causa dos discursos que ele fomentava.