Atitude Popular

Conflito no Oriente Médio, o que está em jogo?

Da Redação

Em entrevista ao programa Café com Democracia, o jornalista Luís Carlos Azenha analisa as raízes históricas e os interesses estratégicos por trás das guerras na região, e revela bastidores de seu documentário no Irã

Em entrevista concedida ao programa Café com Democracia, da web rádio e TV Atitude Popular, o jornalista premiado Luís Carlos Azenha trouxe uma visão aprofundada sobre o atual conflito no Oriente Médio, explorando as disputas geopolíticas e históricas que moldam a região. Segundo Azenha, o cenário de guerra recorrente se conecta à derrocada de uma ordem internacional que vinha sendo construída desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e ao vácuo de poder que se formou com a dissolução da União Soviética e o enfraquecimento da União Europeia. “O que nós estamos vendo hoje é o colapso de uma arquitetura global”, afirmou o repórter, lembrando que os Estados Unidos herdaram do Reino Unido a função de potência hegemônica na área, e mantêm até 19 bases militares espalhadas pelo Oriente Médio.

Para o jornalista, enquanto a nova ordem multipolar, liderada por atores como o grupo BRICS, não se consolida, a instabilidade tende a se agravar. Ele destacou o papel central do Irã nesse tabuleiro, classificando o país como uma “teocracia anticomunista” que construiu um caminho autônomo desde a Revolução Islâmica de 1979, resistindo a sucessivas tentativas de mudança de regime por parte de Estados Unidos e Israel. Azenha lembrou que o Irã, ao contrário de Israel, assinou o tratado de não proliferação de armas nucleares e se submete a inspeções internacionais, enquanto Tel Aviv, que detém bombas atômicas, permanece fora de qualquer monitoramento da Agência Internacional de Energia Atômica.

Azenha também aproveitou a conversa para rebater estereótipos frequentemente disseminados no Brasil sobre a sociedade iraniana. “Estive lá recentemente e vi mulheres dirigindo, trabalhando sem lenço na cabeça”, disse. Embora admita que ainda exista repressão e regras rígidas impostas pelos aiatolás, o jornalista ressalta que há eleições, oposição política e manifestações de rua no país, revelando uma realidade mais complexa do que a retratada pela mídia ocidental. “O Irã tem muito mais soberania do que o Brasil, principalmente tecnológica”, apontou, destacando que o país fabrica seus próprios mísseis, softwares de comunicação e mantém um cinema nacional robusto, inclusive com obras de cineastas críticos ao regime.

Ao tratar dos conflitos mais recentes, Azenha classificou como surpreendente a capacidade iraniana de furar o sofisticado sistema antimísseis de Israel, o chamado “Domo de Ferro”, assim como a profundidade da penetração dos serviços secretos israelenses no território iraniano, que conseguiram eliminar alvos estratégicos. Ainda assim, lembrou que a guerra da informação distorce parte dos acontecimentos. “Na guerra, a primeira vítima é a verdade”, comentou, citando como exemplo o anúncio de que Israel teria matado um alto oficial iraniano que, depois, reapareceu vivo.

Sobre Gaza, o jornalista não poupou críticas ao governo israelense, comparando a situação dos palestinos à de prisioneiros em campos de extermínio durante o nazismo. Ele descreveu uma rotina de destruição de escolas, de expulsões e assassinatos de civis, com bloqueios de alimentos e água. “O povo palestino não tem exército, não tem defesa, e sofre o que podemos chamar de genocídio”, lamentou. Para ele, a expansão territorial de Israel segue um projeto sionista de longo prazo, baseado em justificativas religiosas e sustentado pela força militar.

No encerramento do programa, Azenha falou ainda sobre o documentário que realizou no Irã, previsto para estrear no canal da revista Fórum nos próximos dias. Convidado pela Fundação Raian e pelo Instituto Justiça e Paz, ele registrou, em uma semana de estadia no país, aspectos culturais, gastronômicos e sociais, além de ter tido acesso a instalações militares da Guarda Revolucionária. “O Irã, sob bloqueio há quase 40 anos, desenvolveu suas próprias tecnologias copiando inclusive armamentos capturados de seus adversários”, revelou.

Para o jornalista, o cerne de toda essa disputa continua sendo o petróleo e o controle geoestratégico da região. “Os Estados Unidos não atacam o Uruguai porque lá não tem petróleo. Mas no Oriente Médio, o ouro negro ainda decide a paz e a guerra”, refletiu, apontando que o estreito de Ormuz, sob influência iraniana, poderia paralisar 20% do fluxo mundial de petróleo, com impacto direto no preço da gasolina em países como o Brasil.

“Infelizmente, caminhamos para uma corrida armamentista cada vez maior”, concluiu Azenha, mencionando os exemplos da Síria, da Líbia e do Iraque como países arruinados pelas tentativas ocidentais de mudança de regime. Ele fez um alerta final ao público brasileiro: “Temos que ficar atentos para que as divisões internas não sejam exploradas e usadas para nos enfraquecer como nação”.

A entrevista completa pode ser assistida no canal da Atitude Popular no YouTube. O documentário de Luís Carlos Azenha sobre o Irã deve ser lançado na TV Fórum ainda nesta semana.

OrienteMédio #Geopolítica #Irã #Israel #LuísCarlosAzenha #CaféComDemocracia #AtitudePopular #Conflito #Paz #Documentário #Fórum #Soberania #Petróleo #Gaza #Palestina #BRICS #JornalismoIndependente #Multipolaridade #Resistência #AnálisePolítica