Da Redação
Declarações de Valdemar acusando Eduardo de “ajudar a matar o pai” desencadeiam reação, mostram divisão no PL e acirram disputa sobre quem levará a herança política de Jair Bolsonaro em 2026.
As rusgas que vieram a público entre o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, não são meros desentendimentos retóricos: elas escancaram uma disputa sobre quem vai comandar a sucessão política dentro do partido em 2026. O fio da briga é claro: Eduardo quer construir autonomamente sua candidatura presidencial, enquanto Valdemar tenta mantê-lo alinhado, submisso às decisões do partido e, sobretudo, às pautas definidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Valdemar, em recente entrevista, afirmou que Eduardo poderia “ajudar a matar o próprio pai” se insistisse em lançar candidatura presidencial fora do PL ou sem o aval das lideranças partidárias. A declaração acendeu a fúria do filho do ex-presidente, que reagiu chamando de “canalhice” a fala do presidente do seu próprio partido, exigindo desculpas públicas. O tom do embate demonstra que, mais do que divergência de estratégia, há uma crise de autoridade e legitimidade dentro da sigla.
O discurso de Valdemar revela ainda outra frente de tensão: ele sugere que os votos de Eduardo dependem estritamente do legado de Jair Bolsonaro — uma atribuição de dependência política que Eduardo rejeita. Valdemar chegou a elogiar publicamente Eduardo Paes, do PSD, insinuando simpatias por sua candidatura e alimentando especulações de alianças externas, o que contrastou com a expectativa de Eduardo, que aposta em se afirmar como polo próprio de liderança na direita.
A briga pública é ainda mais significativa se considerarmos o contexto interno do PL: o partido vive uma pressão do Centrão, que busca um nome que una direito, conservadorismo e pragmatismo eleitoral — sem necessariamente ser da família Bolsonaro. Essa disputa de bastidores ganhou força com pesquisas recentes apontando que Jair e Eduardo já registram altos índices de rejeição, maiores do que em meses anteriores, o que reduz o apelo automático da marca Bolsonaro nas intenções de voto.
Eduardo Bolsonaro chegou a ameaçar deixar o PL caso o partido decida apoiar outro candidato presidencial, como Tarcísio de Freitas, apontado por alguns como alternativa pela direita. Já Valdemar reafirma que o comando das decisões cabe ao partido, mas deixa claro que quem decide o rumo da sigla para 2026 precisa considerar as alianças possíveis, os votos reais e o desgaste da marca Bolsonaro.
Pontos de Crítica
- A acusação de Valdemar de que Eduardo “ajudaria a matar o pai” ultrapassa o tom político aceitável, entrando no campo da intimidação e da coação emocional. Isso evidencia não apenas disputa eleitoral, mas tensões pessoais e éticas dentro do velho esquema de poder familiar.
- Eduardo Bolsonaro, por sua vez, não apenas reage, mas usa esse conflito para se colocar como alternativa autônoma, buscando distância do controle tradicional do partido, ainda que isso custe rupturas.
- Votos e carisma não são apenas capital eleitoral, são símbolos de fidelidade. Ao afirmar que os votos de Eduardo dependem do pai, Valdemar tenta manter sob tutela o poder simbólico do legado Bolsonaro — uma tutela que pode estar se desgastando.
- Também pesa o fato de que o eleitorado demonstra fadiga com sucessores de lideranças desqualificadas ou que pareçam repetir velhas práticas de autoritarismo, personalismo ou costume político bruto. Pesquisas recentes reforçam que há rejeição crescente à polarização familiar e partidária na direita.
Conclusão
O PL vive, neste momento, sua crise talvez mais visceral desde que Jair Bolsonaro tornou-se inelegível: não é só sobre quem será candidato, mas sobre que tipo de direita o partido quer encarnar. Se continuará sendo a continuidade direta do legado do ex-presidente ou se buscará um novo rosto, mais adaptado às fragilidades de imagem e à necessidade de ampliar alianças.
Esse bate-boca público aponta que há fissuras profundas entre lealdades pessoais, estratégias eleitorais e pragmatismo político. Quem sair ganhando dependerá de quem dominará o discurso: Eduardo, com base na herança familiar e na radicalização; ou Valdemar e o Centrão, com uma visão possivelmente mais pragmática e menos dependente de símbolos, mas mais dependente de estrutura partidária e de cálculo eleitoral.