Atitude Popular

COP30: Comitê do Acordo de Paris exige recursos para salvar mercado global de carbono

Da Redação

O Comitê do Acordo de Paris alertou que o mercado global de carbono corre risco de fracasso se não forem entregues recursos urgentes e suficientes. Sem financiamento claro, mecanismos regulados, transparência e justiça climática, todo o sistema de crédito de carbono pode se tornar letra morta — prejudicando países vulneráveis.

Nas negociações que antecedem a COP30, marcada para novembro em Belém, cresce a pressão internacional sobre os países desenvolvidos para cumprirem promessas de financiamento climático, especialmente para assegurar que o mercado global de carbono — previsto no Acordo de Paris — não se torne um instrumento vazio e ineficaz.

O Comitê do Acordo de Paris pediu, em documento recente, que os países ricos entreguem recursos claros e garantidos para evitar o que chamam de “fracasso estrutural” do mercado global de carbono. O alerta vem após uma série de impasses regulatórios, ausência de mecanismos operacionais definidos, duplicidade de créditos e falta de governança confiável, que têm levado a desconfianças — sobretudo entre países do Sul Global, que se veem à mercê de regras desfavoráveis ou de mercados voluntários pouco transparentes.

Um dos pontos centrais do debate é o Artigo 6 do Acordo de Paris, que trata da cooperação internacional para metas climáticas — com mecanismos de comércio internacional de créditos de emissão. Embora parte das regras tenha sido acordada na COP29, ainda restam lacunas quanto aos critérios de integridade ambiental, verificação independente, contabilização de reduções de emissões, e garantias de que os créditos não estejam sendo usados para “lavar” emissões ou permitir que grandes emissores continuem operando sem reduções reais.

O mercado global de carbono, se implementado corretamente, pode ser uma ferramenta poderosa para descarbonizar economias, captar financiamento privado e incentivar inovações verdes. Mas sem clara disposição política, com apoio financeiro robusto, climas de confiança nos mecanismos de monitoramento, prestação de contas, transparência e justiça no acesso, corre risco de se transformar em fachada: bom para especuladores, pouco para o clima e para quem mais sofre com os impactos das mudanças climáticas.


Principais desafios evidenciados

  • Financiamento insuficiente e promessas não cumpridas: Países ricos prometeram mobilizar US$ 100 bilhões por ano para ajudar países em desenvolvimento a mitigar e adaptar-se às mudanças climáticas. Mas muitos desses compromissos ainda não foram plenamente honrados ou implementados com os critérios necessários.
  • Governança e transparência precárias: Sem métricas claras e sistema de verificação independente, há riscos de dupla contagem de reduções de emissão, uso de créditos “falsos” ou pouco adicionais — ou seja, que não representem redução real, tornando o mercado simbólico ou até danoso.
  • Desigualdade entre países: Países vulneráveis clamam por recursos, apoio técnico, transferência de tecnologia. Sem isso, podem ficar à margem ou ser vítimas de regras impostas por grandes potências, o que compromete justamente a justiça climática — que deveria ser pilar do Acordo de Paris.
  • Urgência climática vs. lentidão política: Com o clima exigindo reduções imediatas para limitar o aquecimento global, atrasos na operacionalização, falta de consenso em regras ou adiamentos nas promessas financeiras significam perda de credibilidade e risco real de ultrapassar limites irreversíveis.

Conclusão

A COP30 pode ser o ponto decisivo: salvar ou enterrar de vez o mercado global de carbono. Há uma chance de ouro para que os países devolvam dignidade climática, assumam obrigações concretas, fundem justiça e ação real. Mas isso exige coragem política: não mais promessas vazias, mas compromissos financeiros, regulatórios, institucionais.

Se o mundo não acordar para isso, o Acordo de Paris, que podia ser o instrumento central de esperança para mitigar a crise climática, pode se tornar mais um tratado bonito no papel, ineficaz na prática. E para os povos mais vulneráveis, o fracasso desse mercado de carbono é mais que simbólico — pode representar agonia, perdas e danos irreversíveis.