Atitude Popular

Crise entre Motta e Alcolumbre ameaça travar votações no Congresso

Da Redação

Rejeição da PEC da Blindagem expôs racha entre presidentes da Câmara e do Senado; tensão pode contaminar pautas-chave como a isenção do IR e empurrar retaliações políticas entre as Casas.

A rejeição da chamada “PEC da Blindagem” no Senado desencadeou um conflito institucional entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). O embate ameaça paralisar votações consideradas prioritárias tanto para o Congresso quanto para o governo federal.

O atrito ganhou força porque a proposta, defendida por Motta, foi interpretada no Senado como desalinhada das negociações formais — ao retomar, por exemplo, pontos sobre voto secreto em decisões criminais e ampliação de foro para dirigentes partidários. A derrota escancarou a falta de sintonia entre as Mesas e reacendeu disputas antigas sobre medidas provisórias, o novo Código Eleitoral e a regulação da inteligência artificial.

Entre as prioridades que podem ser contaminadas por esse clima de retaliação está a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais. Deputados temem que a tensão inviabilize a votação, enquanto o Senado trabalha em alternativa relatada por Renan Calheiros. O risco de choque entre textos concorrentes aprofunda a crise.

Em público, Hugo Motta tentou minimizar a situação ao afirmar que desacordos são naturais no sistema bicameral. Nos bastidores, porém, parlamentares relatam distanciamento entre os dois presidentes, que inclusive evitaram interações em eventos formais. Deputados próximos a Motta responsabilizam Alcolumbre pela condução da votação e pela abertura a pressões do Centrão.

Tentativas de mediação foram articuladas, inclusive com participação de líderes do Centrão. Uma reunião chegou a ser marcada, mas foi cancelada, ampliando a desconfiança entre as duas Casas. O senador Ciro Nogueira passou a ser apontado como um dos nomes que podem atuar na recomposição da relação, mas o cenário segue indefinido.

O Planalto, por sua vez, buscou se distanciar da PEC rejeitada, reforçando a interlocução com lideranças de ambas as Casas para tentar preservar a tramitação de pautas de interesse do governo. Uma das saídas cogitadas é acelerar a votação de outra proposta vista como prioritária pelo Senado — a que limita decisões monocráticas do Supremo — como forma de criar um ponto de convergência.

Se o impasse persistir, o custo político será imediato: votações sociais e fiscais podem ser adiadas, e o clima de confronto pode abrir espaço para pautas-bomba ou endurecimento na tramitação de medidas provisórias. Líderes do Congresso já ensaiam estratégias de retaliação cruzada, transformando o calendário legislativo em arma de pressão política.