Samira de Castro e Tadeu Porto debatem como usar IA nas lutas sociais sem capitular ao poder das plataformas, com foco em emprego, ética, eleições e soberania de dados
O programa Vozes pela Democracia dedicou a edição desta semana ao tema O uso de ferramentas de IA na luta social, conversa transmitida pela Rádio e TV Atitude Popular, iniciativa do FNDC, com apresentação de Sousa Jr. Esta matéria se baseia na entrevista e reproduz declarações literais dos convidados Samira de Castro, presidenta da FENAJ, e Tadeu Porto, secretário de Comunicação do FNDC e secretário adjunto de Comunicação da CUT.
A mesa partiu de uma constatação, a digitalização reconfigurou o trabalho, a comunicação e a disputa política, e ferramentas de IA já atravessam campanhas, sindicatos e movimentos. Samira de Castro puxou o debate pelo eixo do emprego e da ética, relatou um caso recente, uma publicação que migrou para o digital, demitiu vinte jornalistas e passou a publicar textos gerados por IA sob pseudônimo, reaproveitando trabalho de profissionais dispensados e de concorrentes. Para a FENAJ, disse ela, é inadiável vincular qualquer adoção de IA à centralidade na pessoa e à preservação de postos de trabalho por meio de negociação coletiva. A síntese veio em forma de alerta, “É preciso, é necessário e é urgente regular”.
O recorte regulatório apareceu em três frentes, econômica, de conteúdo e de direitos autorais. Samira lembrou que plataformas operam como grandes corporações globais e que a ausência de regras afeta a soberania, os dados seguem para fora do país, a monetização concentra renda, a opinião pública se reorganiza em ambientes proprietários. Para ela, o Brasil pode liderar uma resposta no Sul Global, um marco legal de plataformas e de IA que estabeleça deveres de transparência, rastreabilidade de conteúdos sintéticos e responsabilização por danos, inclusive trabalhistas. “Nenhuma máquina substitui a ética, substitui o olhar crítico e substitui o senso de responsabilidade dos seres humanos”, afirmou.
Tadeu Porto situou o fenômeno no campo do trabalho, descreveu a plataformização como um novo paradigma que antes simulou a força física com máquinas e agora tenta simular a cognição. A crítica veio acompanhada de uma defesa do humano como medida de governança, “Errar é humano. Pratique o perdão”. O dirigente apontou que o ciclo de inovações não elimina conflitos de classe, apenas muda suas formas, por isso sindicatos e redes da sociedade civil precisam se apropriar das ferramentas, impor critérios de uso e construir infraestrutura comunicacional pública e popular, inclusive para reduzir dependências de big techs.
As eleições de 2026 foram tratadas como teste decisivo. Samira avaliou que processos eleitorais deixaram de ser ciclos bienais e viraram permanentes, a manipulação informacional migrou para ambientes controlados por plataformas estrangeiras e conteúdos gerados por IA, vozes clonadas e vídeos sintéticos exigem novas salvaguardas. Ela defendeu regras claras para rotulagem de conteúdos automatizados, canais rápidos de contestação e sanções proporcionais para uso fraudulento, além de planos de educação midiática voltados a públicos diversos. O objetivo, disse, é impedir que tecnologias invisíveis façam o serviço sujo de desumanizar adversários e corroer a confiança pública.
A dupla convergiu em quatro linhas de ação prática, negociação coletiva para qualificação e proteção de empregos, institucionalização de guias de uso responsável em redações, sindicatos e movimentos, pressão por marcos legais que equilibrem inovação e direitos, criação de circuitos próprios de distribuição de informação, rádios, TVs comunitárias e redes abertas que reduzam a dependência de plataformas comerciais. O fio condutor do programa foi a defesa de que tecnologia é meio, não fim, e que sua orientação deve responder ao interesse público, não ao apetite de dados e lucro de conglomerados.
Ao encerrar, Samira e Tadeu voltaram ao essencial, a política precisa de gente, critérios e responsabilidade, não de fetiche tecnológico. Isso vale para campanhas, para o jornalismo e para a organização do trabalho. O convite do Vozes pela Democracia foi direto, apropriar-se das ferramentas, exigir regras, proteger pessoas e transformar a técnica em aliada de uma comunicação verdadeiramente democrática.
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