Canais independentes defendem método, capilaridade e a soberania como linguagem comum para consolidar a virada comunicacional até 2026
O programa Democracia no Ar recebeu nesta quarta, 8 de outubro de 2025, o comunicador e ativista Jeser Batista, do canal Notórios Bastardos, para discutir o papel estratégico dos canais no YouTube na disputa de 2026. A edição foi apresentada por Sara Goes, com comentários de Reynaldo Aragon, e transmitida pela Rádio e TV Atitude Popular. As informações desta matéria se baseiam na entrevista ao vivo exibida no canal, que integra a Rede Cearense de Comunicação Popular.
Desde a abertura, a condução de Sara reforçou a migração do público para o YouTube por sua dinâmica ainda orgânica, diferente de plataformas que privilegiam impulsionamento pago. A premissa do dia foi simples e direta, jornalismo estratégico requer método e rede, envolve audiência participativa, engajamento consistente e uma linguagem que traduza temas complexos em debates concretos para a maioria.
Virada de linguagem e acúmulo político
Jeser Batista situou a inflexão recente do campo progressista em duas frentes, resultados materiais percebidos no cotidiano e mudança de linguagem. Ele destacou que benefícios e programas voltados a quem mais precisa se somaram a uma contraofensiva comunicacional mais simples, lúdica e repetível. Segundo ele, esse ajuste gerou ganho de terreno. Abre aspas, “é uma batalha que a gente tá vencendo”, fecha aspas. Ainda assim, a vitória é parcial. Abre aspas, “nós temos que continuar atento e nos comunicando e fazendo um trabalho contínuo de comunicação”, fecha aspas.
O convidado avaliou que o cenário é de cristalização gradual da popularidade presidencial. Abre aspas, “o Lula tá cristalizando a sua popularidade”, fecha aspas. A advertência veio na sequência, os percentuais ainda se movem perto de um limiar perigoso, por isso consistência e capilaridade importam mais do que picos virais.
Estratégia antes de ferramenta
O debate avançou sobre formação de militância e o modismo de oficinas técnicas. Para Jeser, saber usar aplicativos vale pouco sem enredo, método e narrativa. Abre aspas, “é mais importante do que saber usar o TikTok, montar uma estratégia e ensinar comunicação e não só a operação de uma ferramenta”, fecha aspas. A chave seria a mensagem objetiva e reiterada, capaz de tocar a subjetividade das pessoas, sem perder os conteúdos de fundo, teses e dados que dão lastro ao campo democrático.
Reynaldo Aragon concordou com o foco estratégico e alertou para a relação ambígua das plataformas com o governo, lembrando que empresas de tecnologia podem ofertar cursos hoje e, amanhã, atuar politicamente para ampliar bancadas conservadoras. O caminho proposto foi construir formação contínua e independente, com sociedade civil, academia e ativismos digitais, formando núcleos que se multiplicam e furam bolhas.
Algoritmo, segmentação e meta intermediação
Na análise dos mecanismos de distribuição, Aragon apontou a passagem do antigo marketing de segmentação para um estágio de condicionamento de comportamento. O algoritmo, segundo ele, deixou de apenas sugerir, passou a antecipar desejos e escolhas. Essa camada de meta intermediação exige disciplina de narrativa, redes policêntricas e coordenação entre canais aliados. O bolsonarismo, lembrou, operou um ecossistema policêntrico que sobreviveu inclusive fora do poder institucional.
Jeser reforçou que a resposta progressista funcionou quando assumiu linguagem popular, com mensagens curtas e facilmente reprodutíveis, sem abdicar do conteúdo substantivo. A comunicação de massa, disse ele, não pode ser travada como seminário permanente, precisa de método específico, objetivo e repetido com constância.
Soberania como palavra de ordem
Outro ponto central foi a disputa de sentido em torno de soberania. Jeser avaliou que o tema venceu a retórica vazia de patriotismo e ajudou a reorganizar o campo democrático. Abre aspas, “a gente tem que repetir, soberania, nós somos donos do nosso Brasil”, fecha aspas. A leitura conecta diplomacia, economia e regulação das plataformas, com atenção para agendas duras que impactam 2026.
Trump, Lula e a quebra do enredo bolsonarista
A conversa passou pelo impacto simbólico do telefonema de Donald Trump para Lula. Jeser avaliou que o gesto desestabilizou o roteiro da extrema direita. Abre aspas, “o Trump ter ligado para o Lula quebrou o bolsonarismo”, fecha aspas. Para além do efeito semiótico, Aragon chamou a atenção para as pautas concretas que cercam a agenda bilateral, como tecnologia, minerais estratégicos, cadeias produtivas e integração regional, áreas que exigem negociação dura e comunicação pública cuidadosa.
Nordeste, imprensa e o vício de CEP
No bloco final, Sara retomou o viés geográfico de análises concentradas no Sudeste e a minimização de impactos reais em estados do Norte e Nordeste. Jeser pontuou o problema de associar o resultado eleitoral à ideia de salvação regional. Abre aspas, “eu nunca vou falar um negócio desse que o Nordeste nos salvou, porque do meu ponto de vista faz parte da estrutura de preconceitos que vive o Brasil”, fecha aspas. O chamado foi por respeito territorial, por cobertura menos estereotipada e por uma arquitetura de comunicação que reconheça diferenças culturais sem subalternizá-las.
O que fica para 2026
Da entrevista emergem três tarefas para os canais de YouTube do campo progressista. Primeiro, consolidar uma estratégia comum, capaz de padronizar mensagens simples e verdadeiras, repetidas com cadência, sem abandonar o conteúdo de base. Segundo, investir em formação contínua, menos tutorial e mais política, articulando sociedade civil e universidades. Terceiro, sustentar a palavra soberania como eixo, ligando defesa da democracia a uma pauta material de desenvolvimento, trabalho e serviços públicos.
Jeser Batista fechou com um convite à persistência: Se tu tem um conteúdo relevante, se tu tem um conteúdo que resolve a vida das pessoas, falta o quê, vamos nos comunicar da maneira certa”, fecha aspas.
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