Da Redação
Taxa de desocupação recuou para 5,6% no trimestre móvel mais recente, repetindo o menor patamar da série histórica; especialistas elogiam a melhora do mercado de trabalho, mas avisam sobre riscos e desafios estruturais.
A taxa de desocupação no Brasil ficou em 5,6% no trimestre móvel mais recente, repetindo o menor nível da série histórica iniciada em 2012. O resultado, divulgado pelo IBGE, representa o ápice de um período de recuperação do mercado de trabalho que vem registrando redução do desemprego e registros de ocupação em patamares recordes.
Os números que sustentam essa leitura são robustos: a população ocupada atingiu novo recorde, com mais de 102 milhões de pessoas trabalhando; o número de desocupados foi reportado em torno de 6 milhões, o menor desde o início da série; e indicadores correlatos, como taxa de subutilização e pessoas desalentadas, também recuaram, sinalizando melhora na intensidade do mercado de trabalho. O rendimento real habitual dos trabalhadores mostrou estabilidade com leve ganho no ano, situado na casa dos R$ 3,4 mil, dependendo do recorte.
Especialistas e analistas econômicos destacam que o ajuste do mercado de trabalho tem vários vetores explicativos. Entre os fatores citados estão a recuperação da economia real após choques recentes, expansão do emprego formal em setores de serviços e comércio, políticas públicas de estímulo ao crédito e consumo, e efeitos conjunturais sobre determinadas cadeias produtivas que vêm contratando. Porém, economistas também enfatizam cautela: a conjugação entre emprego em alta e níveis de informalidade ainda significativos exige atenção para a qualidade das ocupações geradas.
A queda do desemprego vem acompanhada de dinamismo na formalização: o número de empregos com carteira assinada no setor privado atingiu patamares recorde na série analisada, o que ajuda a explicar parte do ganho de rendimento e da redução da vulnerabilidade salarial. Ainda assim, indicadores de subutilização — que agregam desalentados, subocupados por insuficiência de horas e a população que deseja trabalhar mas não procura ativamente — permanecem acima de níveis ideais, indicando espaço para avanços na qualidade do emprego.
No plano político, o governo celebra os números como sinal de que a prioridade dada à geração de emprego vem surtindo efeito, e a comunicação oficial relacionou a queda do desemprego a políticas públicas e à retomada do crescimento. Observadores independentes, porém, alertam para o perigo de atribuição exclusiva de causalidade: variáveis externas, dinâmica global do comércio e ciclos de demanda podem também explicar parte da melhora, de modo que é necessário acompanhar tendências trimestrais e mensais antes de converter os dados em narrativa eleitoral definitiva.
Economistas destacam alguns pontos centrais para monitoramento nos próximos meses. Primeiro, a manutenção da trajetória de queda da informalidade e o crescimento real dos rendimentos serão determinantes para que a melhora do emprego se traduza em ganho duradouro de bem-estar. Segundo, a sustentabilidade fiscal e a política monetária podem impor limites: um mercado de trabalho aquecido pode pressionar preços e levar o Banco Central a adotar medidas para conter a inflação, o que por sua vez influencia investimento e emprego. Terceiro, a heterogeneidade regional e setorial exige políticas direcionadas — em várias unidades da federação o desemprego ainda segue acima da média nacional.
No campo das desigualdades, a leitura dos microdados sinaliza avanços pontuais, como a redução relativa de desalentados e o aumento da ocupação feminina em algumas faixas, mas também aponta persistência de problemas estruturais: disparidades regionais, concentração de postos de baixa produtividade e alta prevalência de informalidade em determinados segmentos. Analistas sugerem que programas de formação profissional, incentivos à produtividade e políticas de requalificação serão necessários para transformar a queda do desemprego em estabilidade ocupacional de qualidade.
Do lado empresarial, o cenário de emprego mais apertado tende a estimular competição por mão de obra em setores intensivos em trabalho, o que pode elevar salários nominais em nichos e forçar ajustes de produtividade. Para os consumidores, a melhora do mercado de trabalho pode se traduzir em incremento do consumo de bens duráveis e serviços, oferecendo impulso adicional à atividade econômica nos próximos trimestres — desde que não venha acompanhada de pressões inflacionárias que corroam ganhos reais.
Em resumo, a taxa de 5,6% é uma marca relevante e histórica para o mercado de trabalho brasileiro, que traduz uma conjuntura positiva no curto prazo. Mas economistas e formuladores de políticas concordam que consolidar essa melhoria exige foco em qualidade do emprego, redução estrutural da informalidade, políticas regionais ativas e articulação entre incentivo ao crescimento e gestão cuidadosa das pressões inflacionárias e fiscais.