Da Redação
Gravações revelam esquema de propinas envolvendo a irmã de Javier Milei em contratos para medicamentos da Agência Nacional da Deficiência (Andis). A crise política, que já resultou em buscas e apreensões, provoca protestos, queda da popularidade e fragiliza as eleições argentinas.
Um escândalo de corrupção envolvendo a estrutura de poder do presidente argentino Javier Milei estremece seu governo a poucas semanas das eleições legislativas. Gravações vazadas mostram o ex-diretor da Agência Nacional da Deficiência (Andis), Diego Spagnuolo e ex-advogado de Milei, discutindo um esquema de propinas que beneficiaria diretamente Karina Milei, irmã do chefe de Estado, que ocupa cargo de secretária-geral da Presidência.
Nos áudios, Spagnuolo afirma que a distribuidora Suizo Argentina cobrava 8% de comissão de fornecedores e repassava 3% para Karina. Estima-se que o esquema movimente entre US$ 500 mil e US$ 800 mil por mês. A divulgação causou imediato impacto político nas eleições provinciais e nacionais que se aproximam. Um procurador apresentou denúncia contra Milei, Karina e outros integrantes, enquanto juízes ordenaram buscas em propriedades e na agência. Durante uma destas ações, foram apreendidos documentos, equipamentos eletrônicos e dinheiro em espécie — US$ 266 mil encontrados em uma casa ligada ao escândalo.
A crise também provocou impacto nos mercados: os títulos argentinos em dólares registraram forte queda, o índice de ações caiu mais de 3% e o peso se desvalorizou junto com a confiança dos investidores. Pesquisas indicam que a aprovação do presidente já caiu para abaixo de 40%, um patamar que ele ainda não havia registrado desde a posse.
No campo político, manifestações em Buenos Aires se intensificaram. Em um evento de campanha, Milei foi atingido por pedras arremessadas por manifestantes, o que levou à evacuação precoce da caravana. Em discurso posterior, ele acusou seus opositores, especialmente seguidores de sua rival Cristina Kirchner, de conspirarem para derrubá-lo com uma operação política. Ressaltou que delegou à Justiça o esclarecimento dos fatos e demonstrou apoio à irmã.
A dimensão do escândalo já levou o governo a convocar uma reunião emergencial na Casa Rosada e dividiu o gabinete. O desgaste público é comparado ao de casos como o “Watergate”, de acordo com analistas, e desafia a narrativa anticorrupção que embasou a vitória de Milei em 2023.