Atitude Popular

EUA intensificam ofensiva contra Venezuela

Da Redação

Nos últimos meses, uma sequência de operações militares, pressões diplomáticas e imposições unilaterais protagonizadas pelos Estados Unidos reforçou o que muitos analistas já classificam não como ações isoladas de combate ao narcotráfico, mas como um plano de aviação política contra a Venezuela. A soberania venezuelana tem sido atacada não apenas no campo militar, mas pelos instrumentos legais, midiáticos e financeiros, e o povo venezuelano sofre diretamente com os danos da guerra simbólica e real.

1. Ataques navais e civis mortos

O episódio mais grave ocorreu no início de setembro, quando forças norte-americanas atacaram uma embarcação no sul do Caribe, sob a alegação de que se tratava de um barco vinculado ao grupo criminoso “Tren de Aragua”. O resultado foi a morte de 11 pessoas, a maioria civis. Nenhuma prova foi apresentada sobre a presença de drogas ou armas na embarcação.

Dias depois, novas ofensivas foram confirmadas: aeronaves de combate e drones dos EUA atacaram outras embarcações supostamente “suspeitas” de transportar entorpecentes. Relatórios independentes apontam que parte desses ataques ocorreu em águas internacionais, configurando violação flagrante do Direito Internacional Marítimo.

No plano geopolítico, trata-se de uma ocupação não declarada. O Pentágono mantém hoje cerca de 4 mil militares em navios e bases flutuantes no Caribe, sob pretexto de “garantir a segurança regional”. Na prática, é um cerco militar sobre a Venezuela e seus aliados.

A operação reproduz o mesmo roteiro usado contra o Iraque e a Líbia: uma sequência de ataques seletivos, guerra midiática e pretextos humanitários que pavimentam o caminho para o isolamento diplomático e, possivelmente, uma intervenção direta.


2. O pretexto do narcotráfico: uma fachada para a ingerência

A narrativa de combate ao narcotráfico serve como máscara de legalidade para ações militares extraterritoriais. Nenhum relatório internacional confirma que a Venezuela seja um dos principais pontos de saída de drogas para os Estados Unidos — e mesmo que fosse, isso não justificaria incursões armadas sem autorização do governo soberano.

Especialistas latino-americanos e europeus vêm denunciando a estratégia norte-americana de usar o discurso moral da “guerra às drogas” para impor controle sobre rotas marítimas e justificar sanções. A mesma retórica já foi usada em décadas anteriores contra a Nicarágua, Cuba e Bolívia.

As ações recentes mostram que, mais uma vez, o verdadeiro objetivo é o controle político e econômico. O bloqueio financeiro imposto à Venezuela, as sanções ao petróleo e o congelamento de ativos no exterior complementam a guerra híbrida — econômica, midiática e psicológica — em andamento desde 2019.


3. O povo paga o preço do cerco imperial

Por trás da retórica de “segurança regional”, quem sofre é o povo venezuelano.
Os ataques marítimos e a presença de tropas americanas afetam diretamente comunidades pesqueiras, portos comerciais e o transporte de bens essenciais. Pequenos barcos foram confiscados, pescadores perderam suas embarcações e famílias ficaram sem sustento.

A insegurança alimentar nas regiões costeiras aumentou após o bloqueio de rotas marítimas. A economia local, já fragilizada pelas sanções, entrou em colapso parcial.
Ao mesmo tempo, a tensão permanente cria um ambiente de terror psicológico: famílias inteiras vivem sob o medo de novos bombardeios, enquanto drones e aeronaves americanas sobrevoam a fronteira norte venezuelana de forma contínua.

Organizações de direitos humanos descrevem o cenário como “guerra não declarada”: uma combinação de cerco econômico, assédio militar e manipulação informacional para forçar o colapso do Estado venezuelano.


4. Reação do governo Maduro e resistência popular

O presidente Nicolás Maduro denunciou oficialmente as ações como “atos de agressão imperialista” e determinou a mobilização das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, incluindo unidades de defesa costeira e milícias populares.
Em pronunciamento transmitido pela televisão estatal, Maduro afirmou que “qualquer ataque a um barco venezuelano é um ataque ao povo latino-americano”.

A resposta venezuelana combina estratégia diplomática e resistência militar. Caracas levou o caso ao Conselho de Segurança da ONU, denunciando os EUA por violação do artigo 2 da Carta das Nações Unidas — que proíbe o uso da força contra a integridade territorial de um Estado.
Países como Rússia, China, Cuba, Irã e Nicarágua manifestaram apoio público à Venezuela, acusando Washington de tentar “recolonizar” a América Latina.

No plano interno, movimentos sociais e sindicatos bolivarianos convocaram manifestações massivas em defesa da soberania nacional. “Não queremos guerra, mas não aceitaremos invasores”, declarou Diosdado Cabello, vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).


5. América Latina reage: soberania em risco

O clima de apreensão se espalha pela região. Governos da Colômbia, Bolívia e Brasil expressaram preocupação com a escalada militar americana no Caribe e pediram “respeito à integridade territorial da Venezuela”.
Para diplomatas brasileiros, a ofensiva de Washington representa “um retorno à política de força e tutelagem” que há décadas a América Latina tenta superar.

Analistas do Itamaraty avaliam que os EUA buscam, com essa nova ofensiva, testar os limites da multipolaridade latino-americana — e enfraquecer projetos regionais como a CELAC e o BRICS ampliado, dos quais a Venezuela se aproxima cada vez mais.

Ao provocar instabilidade no entorno do Caribe, Washington tenta também minar o processo de reaproximação energética entre Caracas e países da região, que ameaça a hegemonia americana sobre o petróleo e o gás.


6. O novo manual da guerra híbrida

As ações dos EUA contra a Venezuela seguem o padrão contemporâneo da guerra híbrida:

  1. Sanções econômicas que paralisam a economia nacional;
  2. Campanhas de desinformação em grandes meios de comunicação para deslegitimar o governo;
  3. Ações militares seletivas travestidas de combate a crimes transnacionais;
  4. Operações jurídicas e diplomáticas para isolar o país em organismos multilaterais;
  5. Estimulação de dissidências internas, visando dividir o exército e o governo.

Essa combinação busca desestabilizar o Estado sem declarar guerra formal, tornando a resistência mais difícil e invisibilizando a violência imperial.
Trata-se, portanto, de uma guerra de desgaste prolongado, cujo objetivo não é apenas o petróleo venezuelano, mas a destruição de um modelo alternativo de soberania na América Latina.


7. Conclusão: o império contra a autodeterminação

A ofensiva dos EUA contra a Venezuela é mais um capítulo da longa história de agressões imperialistas na região. A diferença é que agora ela ocorre num mundo multipolar, onde o Sul Global começa a reagir e a se articular.

O ataque à Venezuela é, no fundo, um ataque à ideia de independência latino-americana. É a tentativa de impedir que os povos do continente construam seu próprio destino político, econômico e cultural sem tutela estrangeira.

A resistência venezuelana, portanto, não é apenas nacional: é continental. Cada barco atacado, cada sanção imposta, cada mentira publicada representa mais uma prova de que a luta pela soberania é também a luta pela dignidade da América Latina.

Enquanto o império repete o passado, a Venezuela resiste — e mostra ao mundo que nenhum bloqueio é capaz de aprisionar a vontade de um povo livre.