Da Redação
A flotilha com barcos de ajuda humanitária que navegava rumo a Gaza relatou múltiplos ataques de drones, explosões e bloqueios de comunicação enquanto estava ao largo da costa grega. Ativistas denunciam táticas de intimidação e exigem proteção naval internacional.
Na tarde desta quarta-feira, 24 de setembro de 2025, os organizadores da flotilha humanitária “Global Sumud”, que se dirige à Faixa de Gaza para tentar romper o bloqueio imposto por Israel, divulgaram que várias de suas embarcações foram alvo de ataques por drones e explosões enquanto navegavam nas águas internacionais ao largo da costa grega.
Relatos dos ataques
Segundo a coalizão que organiza a missão, mais de 15 drones teriam sido lançados contra embarcações, atingindo ao menos 8 barcos da flotilha. Os ativistas também relataram o bloqueio de comunicações e ouviram explosões. Em um dos casos, alegou-se que um dispositivo químico foi disparado e atingiu um dos navios, causando preocupação entre os tripulantes. O episódio ocorreu enquanto a flotilha estava em alto mar, fora das águas territoriais da Grécia.
A deputada portuguesa Mariana Mortágua, que participa da flotilha, afirmou que “esta noite foram registados cinco ataques de drones a outros barcos que estão atrás de nós” e que a flotilha está em alerta máximo com protocolos de segurança ativados.
Apesar da gravidade, os organizadores reforçaram que não pretendem recuar. “Estas táticas não nos vão demover da nossa missão de entregar ajuda a Gaza e quebrar o bloqueio ilegal”, declarou um representante, pedindo que a Guarda Costeira grega proteja todos os navios que se encontram sob responsabilidade de busca e salvamento na jurisdição marítima local.
Contexto da missão e objeções de Israel
A flotilha é composta por cerca de 50 embarcações oriundas de 44 países, com ativistas, jornalistas e médicos de diversas nacionalidades. Dentre os barcos está o Family Boat, navio principal da missão, que transporta mantimentos, suprimentos médicos e voluntários.
Israel já havia afirmado que não permitiria que a flotilha atracasse em Gaza e propôs que os navios aportassem em Ashkelon, porto israelense ao norte do enclave palestino, para que a ajuda fosse posteriormente transferida por meio controlado.
Autoridades israelenses sustentam que qualquer ação que viole o bloqueio marítimo está sujeita a respostas de defesa, alegando motivos de segurança nacional, enquanto ativistas insistem que o bloqueio constitui uma punição coletiva e é ilegal perante o direito internacional.
Reações diplomáticas
O governo da Itália, por meio de seu ministro das Relações Exteriores, afirmou estar disposto a intervir diplomaticamente para mediar a entrega da ajuda à flotilha. Roma busca negociar com Israel para garantir que os navios possam cumprir sua missão humanitária.
Na Grécia, embora a flotilha estivesse navegando em alto mar, os organizadores pediram que as autoridades costeiras assumissem responsabilidade pela segurança das embarcações que transitam na zona de busca e salvamento (SAR) sob jurisdição grega.
Desafios práticos e legais
- O monitoramento eletrônico de embarcações e o bloqueio de comunicação são instrumentos cada vez mais usados em conflitos marítimos assimétricos, representando risco adicional para civis em missão humanitária.
- A atuação de drones em alto mar envolve questões jurídicas delicadas de soberania marítima, jurisdição e responsabilização por danos.
- Romper um bloqueio naval militar mantido por Israel implica risco direto aos navios, que podem ser interceptados, abordados ou atacados.
- A flotilha afirma estar navegando de acordo com o direito internacional e com avisos prévios às autoridades marítimas competentes.
Perspectivas e implicações
Esse episódio se insere em uma escalada de confrontos entre iniciativas humanitárias e a lógica militar de cerco em torno de Gaza. A flotilha pretende pressionar diplomática e publicamente pela abertura de um corredor marítimo de ajuda não controlado por Israel, transformando sua missão em ato político simbólico.
Se os ataques persistirem sem responsabilização, poderão aumentar as acusações internacionais contra Israel por violações de direito humanitário e marítimo. Por outro lado, defensores israelenses reafirmam que manterão o bloqueio como medida de segurança contra o contrabando de armas para o Hamas.
Nos próximos dias, a flotilha tentará avançar seu trajeto, enquanto diplomatas europeus, organismos das Nações Unidas e governos árabes observam atentamente a movimentação para reagir politicamente. O risco, claro, é que o episódio se torne mais uma escalada naval em meio ao conflito em Gaza — com navios civis no meio de fogo cruzado.