A coordenadora do Observatório das Nacionalidades defende a universidade pública como espaço político e celebra os 20 anos da revista Tensões Mundiais
A professora Natália Montebello, coordenadora do Observatório das Nacionalidades e editora da revista Tensões Mundiais na Universidade Estadual do Ceará, foi a convidada do Café com Democracia, programa apresentado por Luiz Regadas no canal TV Atitude Popular. A conversa, transmitida no YouTube, percorreu o trabalho do Observatório, o papel da revista acadêmica, a extensão universitária e o vínculo entre pesquisa e intervenção social
Ao creditar o programa como fonte, convém destacar que a entrevista se apoia na participação de Montebello durante a edição dedicada ao tema O trabalho no Observatório das Nacionalidades, na revista Tensões Mundiais, no PET e na extensão, onde ela detalha o projeto intelectual que sustenta duas décadas de atividade interdisciplinar
A rede e a revista
Criado como uma rede internacional de pesquisadores, o Observatório das Nacionalidades se organiza em torno da revista Tensões Mundiais, classificada como A2 em Ciência Política e Relações Internacionais. Os dossiês têm acesso aberto, reúnem autores do Brasil e do exterior e mobilizam equipes de edição, tradução e projeto gráfico. A editora resume o espírito do projeto em uma frase que carrega método e posição, “a universidade pública é um espaço de pensamento, de pesquisa, de trabalho acadêmico, mas sempre é um espaço político”
Vinte anos de percurso
A primeira edição da revista remonta a 2005, com participação de nomes de referência no estudo das nacionalidades. A linha editorial privilegia temas que conectam nação, conflito, migrações e direitos, com recortes que vão de gênero e campo à Palestina. Para marcar os 20 anos, o Observatório realiza um encontro internacional na UECE nos dias 5, 6 e 7 de novembro, com convidados que assinaram números recentes
Palestina, palavra e posição
A revista publicou uma edição especial sobre Palestina e assumiu o termo genocídio, o que a entrevistada considera inseparável de uma ética pública de pesquisa. “Não era guerra de jeito nenhum, é um genocídio”, afirma, ao defender que o trabalho acadêmico explicite sua posição. O compromisso aparece também no elogio à extensão, na defesa da universidade como lugar de debate informado e na recusa à neutralidade como valor em si
Salas de aula sob vigilância
Montebello observa que o ambiente universitário convive com maior exposição e pressões. A sala de aula mudou, incertezas crescem, e a cultura de vigilância nas redes amplia linchamentos simbólicos e autocensura. Ainda assim, ela identifica margens de liberdade em cursos de Ciências Sociais e elogia o apoio institucional da universidade a eventos e publicações críticos
Extensão que transforma
A convidada sublinha o papel do PET, do PIBID e de outros programas na formação cidadã. Com doze estudantes, seu grupo organiza atividades de cine-debate e minicursos, como o ciclo sobre relações amorosas e feminicídio. A aposta é didática e política, porque a violência de gênero e o ataque a populações LGBTQIA+ respondem a um padrão mais amplo de radicalização autoritária que precisa ser estudado, nomeado e enfrentado
Redes sociais e banalização do sofrimento
A professora critica a lógica de consumo contínuo de imagens nas plataformas. “Você assiste as cenas da Palestina no mesmo fluxo do vídeo do gatinho”, diz, ao apontar como essa circulação fragmentada atrofia a empatia e apaga causas e responsabilidades. A educação pública, segundo ela, cria respiros para restituir contexto e historicidade
Economia política da fome
Ao tratar de África e desigualdade global, Montebello condensa o argumento em uma sentença que pede lugar de destaque, “fome não é um evento natural”. A afirmação busca romper explicações fatalistas e relembrar que a escassez resulta de escolhas políticas, coloniais e contemporâneas, que ordenam cadeias de valor, guerras e bloqueios
Por que insistir na universidade pública
A entrevistada articula um programa mínimo, pensar de modo crítico, ampliar o acesso ao conhecimento, proteger espaços de encontro, sustentar redes internacionais e produzir dossiês que conversem com o debate público. É, ao mesmo tempo, uma agenda de defesa institucional e uma convocação à sociedade
Serviço
Encontro internacional de 20 anos da revista Tensões Mundiais na UECE, 5 a 7 de novembro, com mesas dedicadas a nacionalidades, migrações e Palestina, participação de autores brasileiros e estrangeiros e lançamento de publicações recentes
📺 Programa Café com Democracia
📅 De segunda à sexta
🕙 Das 7h30 às 8h
📺 Ao vivo em: https://www.youtube.com/TVAtitudePopular
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