Da Redação
Ministro da Fazenda afirma que juros alto não se sustentam apenas por fatores fiscais; prevê melhora nos indicadores econômicos e início de cortes na taxa básica de juros no próximo ano.
Nesta segunda-feira, 22 de setembro de 2025, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que espera uma queda “consistente e sustentável” da taxa Selic a partir de 2026. Ele fez a declaração durante evento promovido em São Paulo pelo setor financeiro, destacando que os juros altos no Brasil não podem ser explicados apenas pela situação fiscal, embora esta seja um componente importante.
Haddad argumentou que vários indicadores macroeconômicos vêm melhorando, como inflação em trajetória de desaceleração, estabilidade do câmbio, e expectativas de crescimento e emprego mais favoráveis. Para ele, esses fatores combinados criam ambiente para que o Banco Central comece a reduzir os juros, porém com cautela, de forma que os cortes não desestabilizem a economia ou descontrole inflacionário.
O ministro não deu cronograma exato para quando começarão os cortes, mas deixou claro que “as coisas vão melhorar muito” no próximo ano, ressaltando que a trajetória não será de quedas abruptas, mas sim gradual. Ele enfatizou que a sustentação dessa trajetória depende de que sejam mantidos equilíbrio fiscal e trocas externas favoráveis, bem como previsibilidade para os agentes econômicos.
Pontos de atenção e desafios
- Inflation stickiness: Mesmo com sinais de queda da inflação, parte dos custos — como energia, alimentos e combustíveis — permanece volátil, o que pode atrapalhar previsões otimistas.
- Câmbio e risco externo: A estabilidade do real e a perspectiva de fluxos de capitais são fundamentais. Se houver choques externos ou fuga de investimento, isso pode pressionar os juros para cima de novo.
- Expectativas de mercado: A credibilidade do Banco Central e do governo será testada: se os agentes acreditarem que os cortes serão mantidos sob condições de inflação controlada, o efeito será positivo; caso contrário, o risco de desconfiança pode gerar inflação de expectativas.
- Saúde fiscal como elemento-chave: Haddad reconhece que a política fiscal, embora não seja o único fator, continua sendo decisiva. Se houver deterioração fiscal, déficits elevados ou incerteza nas contas públicas, poderá haver pressão para manter juros elevados.
- Gestos antecipados e comunicação: Para criar esse “ambiente de confiança”, será necessário que haja clareza nos discursos (governo, Banco Central) e que medidas estruturais sejam percebidas como reais — como controle de gastos, programas de investimento produtivo e estímulo à produtividade.
Cenários possíveis
- No melhor cenário, com inflação comportada, câmbio estável e crescimento moderado, a Selic poderia começar a cair já no primeiro semestre de 2026, com reduções graduais até patamares mais próximos de 12-13% ou ainda menos, dependendo do desempenho da economia.
- Em cenários de choque externo (alta nos preços internacionais de energia ou alimentos, instabilidade geopolítica que afete o dólar) ou deterioração fiscal, os cortes podem ficar para a segunda metade de 2026, ou mesmo serem mais lentos do que o desejado.
Avaliação crítica
A aposta de Haddad é otimista e traz alívio para os mercados, empresas e consumidores que sofrem com juros elevados que encarecem crédito, investimento e comprometam projetos privados. A visão de uma Selic em queda torna esperançosa a perspectiva de retomada de investimento produtivo, de crédito mais barato para consumo, e de impacto positivo no custo de vida.
Por outro lado, há riscos reais de que a expectativa crie ilusões se não for acompanhada de políticas de controle inflacionário, de disciplina fiscal e de transparência. Reduções precipitadas, sem base firme, podem gerar reversão — o que já ocorreu em momentos anteriores.
Conclusão
A afirmação de Fernando Haddad de que os juros devem cair de forma “consistente e sustentável” em 2026 é um sinal positivo. Revela confiança do governo de que suas políticas econômicas, combinadas com tendências externas favoráveis, podem finalmente aliviar o peso de uma carga de juros que durante muito tempo encareceu a vida do cidadão e puniu o crescimento econômico.
No entanto, ficar só na promessa não basta: será essencial acompanhar os próximos passos do Banco Central, da Fazenda e das políticas de câmbio, inflação e investimento. Se executado bem, esse movimento poderá representar um momento de virada para a economia brasileira — mas há trabalho árduo pela frente.