Da Redação
Oficina transforma vítimas de violência em escritoras no Ceará Escritora e jornalista Mirelle Costa apresenta a obra Após a morte do conto de fadas, a ressurreição, publicada pela Casa da Mulher Brasileira e disponível na livraria do Senado
A edição desta quinta-feira do programa Democracia no Ar, transmitido pela Rádio e TV Atitude Popular, destacou uma iniciativa cultural que uniu acolhimento, literatura e enfrentamento à violência de gênero. A escritora e jornalista Mirelle Costa falou sobre a obra Após a morte do conto de fadas, a ressurreição, publicada pela Casa da Mulher Brasileira e hoje disponível na livraria do Senado Federal. O livro reúne 22 histórias escritas por mulheres que viveram situações de violência e participaram de uma oficina de escrita ministrada pela autora, transformando experiências dolorosas em narrativas de sobrevivência e protagonismo.
Mirelle, que atuou como repórter por mais de uma década, afirmou que a ideia surgiu da frustração de não conseguir, no jornalismo diário, registrar a profundidade das narrativas de quem sobreviveu à violência doméstica. “No trabalho, temos pouco tempo, mas ali havia muito mais a ser dito. Quis proporcionar a essas mulheres a mesma transformação que a escrita me deu”, explicou. A oficina, financiada pela Lei Paulo Gustavo, misturou aulas presenciais e on-line, com auxílio transporte, lanche e técnicas criativas como musicoterapia. Uma das canções mais marcantes foi Princesa, de Kelly Smith, cujo refrão “a torre é minha, sou toda minha, eu me salvo sozinha” tornou-se um hino para as participantes.
A segurança foi um cuidado central. Como parte do processo, as alunas aprenderam sobre o uso de pseudônimos, inspiradas em escritoras que, no passado, ocultaram seus nomes para terem suas obras publicadas. “Se elas não podiam assinar o próprio nome, eu também assinei com minhas iniciais, em solidariedade”, contou Mirelle. A proposta rendeu mais do que o esperado: 11 mulheres escreveram 22 relatos, muitos deles à mão, em cadernos, no ônibus ou em casa, registrando dores e recomeços. Apesar de histórias marcadas por abusos, abandono familiar e falta de acolhimento institucional, todas encerram com a expectativa de mudança.
Entre os temas que emergiram das narrativas, chamou atenção o padrão identificado por leitores críticos: diversas autoras sofreram violência ainda na infância, especialmente no ambiente familiar, o que se repetiu na vida adulta em relacionamentos abusivos. Para Mirelle, esses relatos ajudam a traçar um perfil útil à formulação de políticas públicas. Um exemplo de força veio de uma mulher que ainda convive com o agressor, mas reconhece a dependência emocional e financeira como obstáculos que pretende superar: “Ter consciência já é metade da cura”.
O impacto da iniciativa ultrapassou as páginas do livro. Muitas autoras afirmaram não ter parado de escrever e passaram a ver a si mesmas como escritoras. O trabalho também ganhou reconhecimento nacional: a obra ficou em segundo lugar no Prêmio Juíza Viviane Vieira do Amaral, concedido pelo Conselho Nacional de Justiça, que homenageia vítimas de feminicídio e ações de proteção às mulheres.
No mês de conscientização Agosto Lilás, Mirelle está publicando diariamente as histórias no blog do jornalista Eliomar de Lima, ampliando o alcance das vozes que ajudou a projetar. “O que fiz foi dar meu silêncio, minha escuta e meu abraço. O resto veio delas”, resumiu. A experiência reafirma que políticas culturais, quando aliadas à rede de proteção, não apenas salvam vidas, mas também criam novas formas de protagonismo.
Para baixar o livro: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/685627/Apos_morte_conto_fadas_ressureicao.pdf
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