Projeto reúne cartas, memórias e canções para celebrar o gênio cearense
Fortaleza, 1º de outubro de 2025. O Café com Democracia dedicou a edição de hoje ao lançamento de Cartas para Belchior 2, com a apresentação de Luiz Regadas e a participação do historiador Evaldo Lima e do escritor e professor Nonato Nogueira. A matéria se baseia na entrevista exibida pelo programa da Rede Atitude Popular, que voltou a colocar Belchior no centro das conversas sobre cultura, cidade e memória afetiva
A nova coletânea, escrita por fãs, pesquisadores e artistas, dá sequência ao volume inaugural lançado em setembro, no Teatro Chico Anysio, e prepara o terreno para 2026, quando convergem três efemérides, os 80 anos de Belchior, os 50 anos de Alucinação e os 300 anos de Fortaleza. O segundo lançamento será no sábado, 4 de outubro, no Centro Cultural Belchior, na Praia de Iracema, com roda de conversa, leituras e interpretações de músicas do artista
Cartas como gesto de cidade
Evaldo Lima destacou que a obra mobiliza a cidade para além da nostalgia. Para ele, o livro reúne escritos que conversam com a Fortaleza real, a das livrarias, dos corredores universitários e dos artistas populares, uma cidade que lê e ouve Belchior em primeira pessoa. Em tom emocionado, lembrou o livreiro Geraldo, figura central do centro histórico, e conectou a prática da leitura com a formação de gerações que descobriram Belchior entre discos, cafés e amigos. Ao comentar sua própria carta, explicou que partiu de uma provocação do álbum Melodrama e retomou a antiga relação do cantor com Dante Alighieri, tema que o compositor estudou desde a juventude no mosteiro de Guaramiranga, “um homem de história, erudição e ironia precisa”, resumiu
O jovem nordestino e a reinvenção no Sul
Nonato Nogueira percorreu a travessia de Belchior nos anos 1970, a saída do Ceará, as primeiras temporadas no Rio e em São Paulo, os percalços materiais e os encontros decisivos com parceiros como Jorge Mello e intérpretes como Elis Regina. “Jamais haverá outro Belchior”, disse o professor, ao defender o lugar singular do compositor no cancioneiro brasileiro. Em sua carta, Nonato trabalha a ambiência política da década de chumbo, a linguagem cifrada que atravessava a censura e a atenção de Belchior às ruas, aos estudantes, ao trabalhador urbano, aos deslocamentos forçados do povo do Norte e do Nordeste
Belchior, leitor e tradutor do mundo
Na conversa, Evaldo recuperou o vínculo do artista com a universidade e com a tradição humanista, da história das mentalidades à literatura italiana, e recordou episódios que mostram o interesse do compositor por debates intelectuais. Ao citar uma entrevista com o próprio Belchior na FM Universitária, descreveu uma pessoa curiosa, afeita a longas conversas e a cruzamentos pouco convencionais entre filosofia, poesia e crônica do cotidiano. A imagem do compositor no alto de um prédio observando a cidade virou chave de leitura para canções que transformam chuva em desenho, ruas em música e a solidão urbana em ferramenta poética
Rock, política e linguagem
Nonato situou Belchior em diálogo com referências como Bob Dylan, Beatles e a linhagem do rock que questionou padrões de comportamento, pontuando que a modernização estética de Alucinação abriu caminho para novas formas de narrar o país. O professor lembrou que o compositor recolheu falas, frases e leituras de várias fontes e as costurou em canções que se tornaram ensaios cantados sobre liberdade, identidade e enfrentamento social
Serviço e convites
O encontro no Centro Cultural Belchior terá roda de conversa, performance de artistas cearenses e relatos de contemporâneos do compositor, entre eles o médico Manuel Fonseca, colega de turma na faculdade de Medicina, que promete recuperar passagens marcantes do período. “É um livro que convida a cidade a escrever junto”, disse Evaldo, ao convocar o público para celebrar Belchior com música, leitura e convivência
📺 Programa Café com Democracia
📅 De segunda à sexta
🕙 Das 7h30 às 8h
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