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Jeffrey Sachs alerta para o risco iminente de uma Terceira Guerra Mundial

Da Redação

Em entrevista, o economista estadunidense critica a subserviência da Europa aos Estados Unidos, denuncia a escalada bélica global e clama por uma diplomacia realista para evitar um desastre nuclear

Em uma contundente entrevista ao jornalista Glenn Diesel, publicada no canal do jornalista no YouTube, o renomado economista Jeffrey Sachs fez um alerta sombrio sobre o atual estado das relações internacionais, afirmando que o mundo se encontra à beira de uma Terceira Guerra Mundial. Sachs, conhecido por suas análises críticas da política externa norte-americana, afirmou que vivemos uma “era de arrogância imperial” dos Estados Unidos, agravada pela capitulação política da Europa, pela ausência de diplomacia genuína e pela escalada de conflitos armados em diversas regiões do planeta.

“Estamos mais próximos do suicídio nuclear do que jamais estivemos”, disse Sachs, referindo-se ao Relógio do Juízo Final, mantido pelo Bulletin of the Atomic Scientists, que atualmente marca apenas 89 segundos para a meia-noite — o ponto mais próximo do cataclismo desde sua criação em 1947. O economista atribui essa situação a um conjunto de fatores: a proliferação de armas nucleares, a incapacidade das lideranças ocidentais de aceitar a transição para um mundo multipolar e a política externa dos Estados Unidos, que insiste em ditar regras aos demais países, sem reconhecer os riscos desse comportamento beligerante.

Sachs foi enfático ao denunciar o papel da Europa nesse cenário. Para ele, o continente perdeu sua autonomia política desde a ampliação da OTAN em 2008, seguindo cegamente as diretrizes de Washington. “Ursula von der Leyen não trabalha para a Europa, trabalha para os Estados Unidos”, afirmou, criticando a presidente da Comissão Europeia pela recente negociação comercial que, segundo ele, entregou os interesses europeus em bandeja de prata aos norte-americanos.

O economista destacou que a Europa, ao adotar uma retórica russofóbica e subserviente, se isolou diplomaticamente, perdeu capacidade de negociação e se tornou cúmplice das aventuras militares norte-americanas. “O mainstream europeu virou a facção belicista. Se você defende a paz, é rotulado como extremista”, disse, ironizando o que chamou de “centro radicalizado” das democracias ocidentais.

Ao tratar dos conflitos atuais, Sachs foi incisivo ao denunciar o genocídio em Gaza, acusando Israel de crimes de guerra e criticando a cumplicidade das potências ocidentais. “Israel é um Estado criminoso, e os Estados Unidos e a Europa são cúmplices. Estão armando e financiando uma limpeza étnica em tempo real”, afirmou, sem poupar críticas à influência do lobby sionista na política externa americana.

Para Sachs, a raiz de toda essa instabilidade está na recusa dos Estados Unidos em aceitar a nova realidade multipolar. Ele cita a ampliação da OTAN até as fronteiras da Rússia como um dos principais gatilhos para o conflito na Ucrânia, ressaltando que a diplomacia foi abandonada em prol de ultimatuns e imposições unilaterais. “A arrogância de achar que os Estados Unidos podem ditar os termos a Rússia, China, Irã e ao resto do mundo nos leva diretamente para o abismo”, alertou.

Questionado sobre uma possível saída para essa crise, Sachs foi claro: o caminho passa pela restauração de uma diplomacia séria e pela rejeição da lógica das sanções e ameaças. “Diplomacia não é dar um ultimato pelo Truth Social. É sentar, conversar, reconhecer interesses mútuos e construir um acordo baseado em respeito”, disse, acrescentando que os líderes atuais não estão à altura dessa tarefa, seja nos EUA, seja na Europa.

A entrevista também evidenciou um ponto crucial: a aliança entre o complexo industrial-militar norte-americano e as elites políticas europeias, que transformaram o continente em um “vassalo submisso” de Washington. Sachs lamenta que as lideranças europeias tenham abandonado o espírito de independência que marcou figuras como Willy Brandt e os tempos de Ostpolitik, em nome de uma adesão cega à hegemonia americana.

Apesar do tom grave, Sachs concluiu a entrevista com um fio de esperança, lembrando que a multipolaridade — se tratada com diplomacia e respeito — pode ser o berço de um novo sistema internacional, mais equilibrado e justo. “O velho mundo está morrendo, o novo mundo não consegue nascer, e nesse interregno surgem os sintomas mórbidos, como diria Gramsci. Mas cabe a nós, cidadãos, exigir uma mudança de rumo”, afirmou.

A entrevista de Jeffrey Sachs se soma a uma crescente corrente de intelectuais e diplomatas que alertam para a urgência de se reestabelecer canais de diálogo reais entre as potências globais, sob pena de vermos a história rimar tragicamente com as décadas que antecederam as grandes guerras do século XX.