Da Redação
Com rodas de conversa, festa, gira de terreiro e homenagem às trajetórias de resistência, a ADUFC realiza entre os dias 23 e 26 de julho uma programação especial que celebra a força ancestral e política das mulheres negras no Ceará
No mês de julho promove-se uma homenagem à força, à trajetória e à resistência das mulheres negras. Em 2025 acontece a 13ª edição do Julho das Pretas – Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver, marcada pela luta por justiça social. O ponto alto será a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, em Brasília, no dia 25 de novembro, como parte da mobilização global do movimento.
De 23 a 26 de julho, em Fortaleza, a ADUFC apresenta uma programação gratuita que combina debates, cultura, espiritualidade e celebração. A agenda ocupa diferentes territórios da cidade e propõe encontros com saberes ancestrais, ativismo comunitário e arte negra.
Quarta (23/7)
- 15h às 17h: roda de conversa “Trajetórias coletivas de mulheres insubmissas”, com Ana Aline Furtado, Cris Faustino, Veronízia Sales, Joseli Cordeiro e Wanessa Brandão. Mediação de Cícera Barbosa. Local: sala multiuso do Museu da Imagem e do Som (MIS), no Meireles.
- 18h: exibição da série “Pretas da História”, seguida de debate com a diretora Danielle Valentim. Local: Casa do Barão de Camocim, no Centro.
Sexta (25/7) – Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela
- 15h às 19h30: roda de conversa “Mulheres Negras em Movimento” e apresentação musical de Negra Lu, no Jardim do Casarão do MIS.
- 18h: festa “negro é pra se libertar”, com curadoria de Mayra Fernandes e Rodrigo Lopes, discotecagem de DJs Negona, Viúva Negra e Molhadonas, abertura de exposição, participação de Giuliano Freitas (pai de santo) e realização da Feira Negra. Local: Casa do Barão de Camocim.
Prêmio Tereza de Benguela
No mesmo dia, a sede da ADUFC será palco de uma celebração da ancestralidade em movimento. A 6ª edição do Prêmio Tereza de Benguela vai homenagear mulheres negras que dedicam suas vidas à construção de um mundo mais justo, diverso e solidário. Realizado pelas mulheres do Movimento Negro Unificado (MNU) do Ceará, o evento reconhece lideranças que atuam em diversas frentes de resistência, com destaque para a luta por equidade racial, justiça social, educação pública e fortalecimento comunitário.
Entre as homenageadas da noite está Kátia Rogéria Rodrigues dos Santos, mulher preta retinta de Jaguaribara, filha de agricultores, professora da rede pública desde 1991 e referência na organização sindical do interior cearense. Fundadora do Sindicato dos Servidores Municipais de Jaguaribara (SINSEMJ), Kátia também é diretora da Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará (Fetamce) e militante ativa do MNU, da CUT e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Sua atuação vai além das salas de aula e das assembleias: participa de conselhos de educação e políticas públicas e mantém firme a convicção de que nenhum direito é concedido, todos são conquistados com luta.
A premiação também reconhece outras mulheres cujas trajetórias mobilizam territórios e comunidades: Lucineide Almeida, Veronica Neves, Valeria Neves, Dandara Albuquerque, Claudiana de Araújo, Aluizia de Oliveira, Margarida Marques e Martin Silva. Cada uma delas representa um capítulo da luta negra feminina por dignidade, memória e futuro.
O Prêmio Tereza de Benguela, que já se consolidou como uma das principais homenagens do estado às mulheres negras, reafirma, a cada edição, o compromisso com a valorização das vozes que historicamente foram silenciadas. É um ato político, pedagógico e afetivo, que transforma o reconhecimento em instrumento de fortalecimento coletivo. A força de Tereza segue viva em cada nome que sobe ao palco.
Sábado (26/7)
- 9h: roda de conversa “Mulheres Negras de fé e resistência por reparação e bem viver”, com Inegra e Coletivo Boca da Mata. Local: Creche Gota de Vida, no Conjunto Palmeiras.
- 15h (com inscrição prévia): gira de terreiro com o Terreiro Mestra Mãe Alexandrina, atividade voltada à educação antirracista e patrimonial. A saída será do Centro Cultural do Cariri, com programação no Crato.
A programação da ADUFC reforça a dimensão política, cultural e comunitária do Julho das Pretas, alinhando debates sobre reparação histórica à conexão com saberes ancestrais, música, representação e homenagem às mulheres negras. Iniciativas como a exposição, as rodas de conversa e o prêmio buscam fortalecer redes de solidariedade e visibilidade, enquanto a festa cultural e a gira de terreiro resgatam e celebram a ancestralidade.
Este ciclo local integra-se à mobilização nacional e internacional do movimento. Enquanto Fortaleza amplia as vozes das mulheres negras, Brasília aguarda um marco histórico em novembro, quando uma multidão irá marchar pela reparação e pelo bem viver.