Da Redação
Rússia acusa aliança militar ocidental de atuar diretamente com suporte à Ucrânia e defende que isso configura envolvimento de facto em hostilidades.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou em pronunciamento oficial que o apoio militar, logístico e político da OTAN à Ucrânia configura, na avaliação russa, uma participação efetiva no conflito — o que, segundo Moscou, já caracteriza uma guerra entre OTAN e Rússia, ainda que não haja envolvimento declarado de tropas da aliança no solo russo.
Segundo Peskov, a OTAN não está apenas fornecendo armas ou inteligência, mas envolvida de forma direta e indireta nas operações militares e sócio-estratégicas contra interesses russos, o que torna impossível separar completamente as hostilidades ucranianas do apoio externo. Ele afirmou que esse apoio torna a aliança em parte legitimamente “parte do conflito”, uma tese que vai contra as posições oficiais da maioria dos países da OTAN, que mantêm que o suporte ao governo ucraniano é uma forma de defesa legítima e não uma declaração de guerra.
Moscou sustenta que essa classificação se baseia em uma interpretação de que o fornecimento de armamentos, ajuda militar e cooperação logística produz efeitos que ultrapassam a mera assistência — influenciando diretamente o curso de operações ofensivas e defensivas sobre o terreno. O Kremlin avalia que ações como fornecimento de munições, drones, sistemas antiaéreos e satélites de inteligência têm impacto operacional significativo no conflito, o que justificaria sua afirmação de guerra de fato.
De outra parte, observadores internacionais apontam que embora exista esse apoio considerável da OTAN à Ucrânia, não houve, até o momento, ação militar declarada da aliança contra a Rússia, nem implantação oficial de tropas OTAN em solo russo para combate direto. Estados-membros resistem a esse rótulo, argumentando que se trata de ajuda externa e transferências de armas, não de agressão formal.
O contexto dessa declaração inclui aumento de tensão com incursões de drones russos em territórios de países da OTAN, tensões diplomáticas frequentes, discussões sobre sanções adicionais, reforço de logística militar no flanco oriental da aliança e preocupação com consequências de escalada militar. Moscou parece usar sua narrativa como parte de estratégia para desacreditar ações ocidentais e criar justificativas para suas próprias movimentações estratégicas.
Para especialistas, essa fala do Kremlin tem duas possíveis funções principais: primeiro, servir tanto como aviso de que comportamentos da OTAN considerados como “linha vermelha”, como derrubar drones russos ou apoiar fortemente ofensivas ucranianas em solo próximo às fronteiras russas, podem gerar resposta militar direta; segundo, tentar mobilizar narrativa interna de que a Rússia está sob cerco e que precisa justificar medidas de segurança, mobilização ou reforço militar no seu território.