Professor Evaldo Lima relembra a trajetória do Dragão do Mar e sua luta pela abolição no Ceará
Na edição especial da Quarta da História, dentro do programa Café com Democracia, transmitido pela TV Atitude Popular, o historiador e ex-vereador de Fortaleza Evaldo Lima resgatou a vida e o legado de Francisco José do Nascimento, o célebre Dragão do Mar. A conversa, conduzida por Luiz Regadas, reconstruiu a trajetória do jangadeiro cearense que se recusou a transportar escravizados e entrou para o panteão dos heróis da pátria.
Do sertão ao mar, uma vida marcada pela resistência
Evaldo recordou que Francisco José nasceu em 1839, em Canoa Quebrada, filho de pescadora e rendeira, em uma família pobre. Ainda bebê, sobreviveu por um milagre após engasgar com uma espinha de peixe, episódio que sua mãe, dona Matilde, atribuiu à promessa feita à Nossa Senhora do Rosário. O pai migrou para o ciclo da borracha na Amazônia e nunca voltou, e coube à mãe criar os filhos sozinha.
O menino Chico foi entregue ainda pequeno a um juiz da região do Aracati, mas diante das condições de exploração, dona Matilde o tomou de volta. A ousadia contra um homem poderoso obrigou a família a deixar a cidade, e Chico embarcou no navio Tubarão aos sete anos de idade, onde trabalhou como grumete até os 20 anos.
A greve dos jangadeiros e o marco da abolição
Ao se estabelecer no Mucuripe, em Fortaleza, Chico tornou-se prático e jangadeiro. Foi nesse período que aderiu ao movimento abolicionista. Em 1881, liderou a histórica greve dos jangadeiros que se recusaram a transportar pessoas escravizadas para o porto, onde seriam enviadas ao Sudeste.
“Antes que a jangada se faça tumba, melhor que seja trincheira de liberdade”, foi a máxima que simbolizou a desobediência civil. Para Evaldo Lima, a greve mostrou que “a resistência popular era capaz de acelerar transformações sociais, criando um elo entre a luta popular e as mudanças institucionais”.
Reconhecimento e legado nacional
A coragem de Chico da Matilde repercutiu em todo o país. Em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea, ele foi recebido em festa no Rio de Janeiro, com honras de chefe de Estado. Doou sua jangada Liberdade ao Museu Nacional, consolidando o gesto que o transformou em herói.
Segundo Evaldo, o legado permanece vivo: “O mar que embalou a jangada Liberdade é o mesmo que embala sua memória. O mar da história é agitado, e o Dragão do Mar nos lembra que liberdade nunca é dádiva, é sempre conquista”.
Hoje, Francisco José do Nascimento é lembrado não apenas no Ceará, mas em todo o Brasil. Seu nome está gravado no Panteão dos Heróis da Pátria, em Brasília, e segue como referência para a luta contra o racismo, pela igualdade e pela democracia.
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