Artista, educador e inventor fala sobre trajetória, fotografia, cinema e projetos com comunidades marginalizadas
Da Redação
No programa Café com Democracia, transmitido pela web rádio e TV Atitude Popular, o apresentador Luiz Regadas conversou com o artista, educador e inventor Luiz Aistrong sobre um conceito que ele desenvolve há mais de uma década: a “ciência da aproximação”. A entrevista, repleta de memórias e reflexões, abordou desde o trabalho do convidado em comunidades populares até sua produção artística ligada à saúde mental.
Aistrong explicou que o termo nasceu quando ele começou a refletir sobre a velhice e o tempo limitado para realizar projetos significativos. “Sempre tive interesse em atingir as pessoas sem doutriná-las, sem me colocar como o detentor de um conhecimento ao qual elas precisassem chegar. A ciência da aproximação é isso: encontrar caminhos para chegar ao outro de forma respeitosa, criando vínculos e não impondo verdades”, afirmou.
Sua trajetória como artista e educador é marcada pela atuação em comunidades da Região Metropolitana do Recife, onde cresceu. Filho de operário do Cotonifício da Torre, Aistrong foi o único da família a não trabalhar na fábrica. Essa origem, afirma, moldou seu olhar social. “Tenho uma dívida com o operariado”, disse. Ainda jovem, ingressou no curso de Ciências Econômicas, mas não se identificou e migrou para a arte.
A fotografia entrou em sua vida nos anos 1980, após uma viagem pela América do Sul. Mas foi em 1990, em Fortaleza, que se aproximou da fotografia documental, participando de romarias no Juazeiro do Norte e convivendo com fotógrafos como Tiago Santana, Celso Oliveira e Tibico. “Foi no Juazeiro que me descobri fotógrafo de gente”, destacou.
A partir de meados da década de 1990, Aistrong passou a ministrar oficinas e a trabalhar em projetos autorais, com forte presença do preto e branco. Seu interesse pelo registro de pessoas em instituições psiquiátricas rendeu filmes e livros que unem arte e saúde mental. Entre eles, Quantas cabeças cabem num espelho e Clientes e amigos — este último produzido no Rio de Janeiro, no Museu de Imagens do Inconsciente, dentro do Complexo Nise da Silveira.
Outro marco foi sua participação na criação do “Hotel da Loucura”, projeto coordenado pelo médico Vitor Pordeus, que transformou antigas enfermarias em espaços culturais, artísticos e terapêuticos. A iniciativa incomodou setores conservadores e acabou encerrada por decisão política, mas permanece como referência de inovação e cuidado em saúde mental.
A parceria com o mestre fotopintor Júlio Santos, de Fortaleza, resultou em obras que mesclam fotografia e pintura, retratando frequentadores do Hotel da Loucura e pacientes do Hospital da Tamarineira. Em Casou no Papel (2017), Aistrong trabalhou imagens rasgadas como metáfora para corpos mutilados ou marcados pela violência institucional. “O rasgo era uma intervenção no corpo simbólico da imagem, refletindo a fragilidade e a interferência na vida dessas pessoas”, explicou.
Com uma produção que atravessa fronteiras entre arte, educação e intervenção social, Luiz Aistrong segue desenvolvendo sua “ciência da aproximação” — um método e, ao mesmo tempo, uma filosofia de encontro humano, feita de escuta, respeito e partilha. “É sobre chegar perto sem invadir, oferecer sem impor e criar com o outro, não para o outro”, resume.
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