Da Redação
Em entrevista direto do mar a bordo da flotilha Sumud, a deputada federal Luizianne Lins afirma que sua presença na missão humanitária é expressão de compromisso ético e político. Ela denuncia ataques violentos de drones, reafirma o papel do Brasil e questiona retóricas diplomáticas sobre a causa palestina.
Luizianne Lins, deputada federal pelo PT do Ceará e ex-prefeita de Fortaleza, concedeu entrevista a bordo da Sumud Flotilla, missão internacional que busca romper o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza. A parlamentar afirmou: “A Palestina é um dever moral para nossa existência, para esse momento histórico mundial.”
Compromisso ético e político
Para Luizianne, participar da missão não é um gesto simbólico, mas um compromisso que atravessa toda a sua trajetória de militância em direitos humanos. Ela lembrou que sua atuação sempre esteve ligada à defesa da justiça social, e que a presença na flotilha é uma continuidade desse percurso. “Tem muito sentido dentro da minha perspectiva de vida e da minha militância”, declarou.
A deputada já presidiu comissões de direitos humanos tanto no Ceará quanto na Câmara dos Deputados e atua também como representante latino-americana da Liga Parlamentar por Al-Quds e Palestina. Para ela, o embarque na flotilha é uma resposta à inércia global diante do sofrimento palestino.
Relatos de ataques e violência
Luizianne descreveu cenas de terror no Mediterrâneo. Relatou que drones israelenses sobrevoaram a frota e que explosões ocorreram muito próximas às embarcações. Parte da flotilha, segundo ela, foi atingida por material químico corrosivo. “À noite, no meio do mar, vimos drones e depois as explosões caindo perto dos barcos. Foi um momento de medo, mas também de coragem coletiva.”
Apesar do perigo, a deputada enfatizou que o medo não paralisa: “Todos têm medo, mas o que nos move é a responsabilidade de romper o bloqueio e levar ajuda humanitária. A Palestina é um chamado moral para todos nós.”
Crítica à diplomacia e defesa de Lula
Luizianne fez duras críticas à política externa norte-americana e ao histórico de Donald Trump, que, segundo ela, “tratou a Palestina com desprezo e deboche”. Reforçou, por outro lado, o papel histórico do presidente Lula ao denunciar o genocídio em Gaza perante as Nações Unidas: “Lula foi o primeiro chefe de Estado do mundo a caracterizar o que acontece em Gaza como genocídio. Isso foi um divisor de águas.”
Ela destacou que a posição do Brasil na ONU fortalece a diplomacia humanista e recoloca o país no eixo das grandes causas globais, aproximando-o de outras nações que defendem um cessar-fogo e a criação de um Estado palestino independente.
O papel dos brasileiros na flotilha
Entre os quinze brasileiros embarcados na missão, Luizianne é a única deputada federal. Para ela, essa condição reforça o dever de representar não apenas o Brasil, mas também o compromisso com o direito internacional e os valores democráticos. “Carrego comigo a responsabilidade do povo brasileiro, que historicamente se solidariza com as causas justas.”
A parlamentar ressaltou ainda a importância da vigilância popular: “É fundamental que o povo brasileiro pressione para garantir a integridade dos que participam dessa missão. Estamos esperançosos, mas precisamos da força da sociedade civil.”
Simbolismo e repercussão
A entrevista da deputada ecoou entre militantes, parlamentares e entidades internacionais. Luizianne transforma o gesto de embarcar — e o risco que assume — em um ato político de alto valor simbólico. Sua presença rompe o cerco informacional e força governos e grandes veículos de comunicação a abordar o bloqueio de Gaza e as ações israelenses contra civis.
A flotilha se converteu, assim, em ato de resistência múltipla: humanitária, diplomática, comunicacional e política. Luizianne sintetiza essa dimensão ao afirmar que a luta palestina é, acima de tudo, “uma luta pela própria humanidade”.