Da Redação
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já tem convicção em indicar Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal, mas enfrenta resistência do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Para evitar confronto institucional, o Palácio do Planalto articula gestos de compensação política antes da nomeação oficial.
O governo do presidente Lula tem dado claras demonstrações de que pretende indicar Jorge Messias para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso — mesmo diante da insatisfação de Davi Alcolumbre, presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e figura central no Senado.
Segundo aliados, Lula já formou convicção sobre Messias. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner, afirmou que o presidente disse ter “convicção formada em torno do AGU”. Essa declaração consolidou a percepção de que a escolha está praticamente definida, restando apenas o momento político adequado para o anúncio.
Entretanto, Alcolumbre defende outro nome para o Supremo: o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ele se reuniu com Lula para apresentar sua preferência e, segundo fontes próximas, busca fortalecer a presença do Legislativo na Corte. O senador amapaense tem peso considerável por presidir a CCJ, colegiado responsável pela sabatina de qualquer indicado ao STF.
Para evitar que o impasse se transforme em crise política, o Palácio do Planalto vem adotando um conjunto de gestos e concessões voltados a apaziguar Alcolumbre e manter a estabilidade institucional. Entre as medidas estão indicações de aliados do senador para cargos estratégicos, o avanço de projetos de interesse do Amapá — seu estado de origem — e a promessa de diálogo contínuo sobre a agenda legislativa.
A frase de Alcolumbre sobre o caso — “o ‘se’ é muito complicado” — traduz a cautela com que o Senado pretende tratar a sabatina. Ela também sinaliza o poder de veto político que o parlamentar carrega, algo que o Planalto tenta contornar com uma engenharia de bastidores cuidadosa.
Mesmo assim, a convicção de Lula sobre Messias reflete mais do que uma escolha pessoal. Jorge Messias, atual Advogado-Geral da União (AGU), é considerado um quadro técnico sólido, de perfil discreto e alinhado à concepção de Estado de Direito defendida pelo governo. Para Lula, ele simboliza a tentativa de consolidar um Supremo mais técnico e menos permeável a pressões político-partidárias — uma reação direta aos anos de lawfare e à politização da Justiça.
Do outro lado, Alcolumbre busca preservar seu protagonismo na arena institucional e garantir que o Senado seja visto como coautor das decisões estratégicas. O presidente da CCJ tem sido uma peça-chave nas negociações do governo e controla uma base heterogênea que vai do centro ao centrão. A indicação de Messias, sem costura adequada, poderia ser interpretada por seus pares como um gesto unilateral do Executivo.
Por isso, o Planalto adotou uma estratégia de compensação política em três frentes. A primeira é administrativa, com o atendimento de pleitos regionais e técnicos ligados ao Amapá. A segunda é legislativa, com apoio a projetos de interesse do Senado. A terceira é simbólica: Lula pretende reforçar publicamente a importância do diálogo com Alcolumbre e reconhecer sua contribuição institucional.
Mesmo com a costura em andamento, há riscos evidentes. Caso Alcolumbre decida retardar a sabatina na CCJ, o governo enfrentará desgaste e ruído político em um momento de sensibilidade econômica e internacional. Por outro lado, acelerar o processo sem costura suficiente poderia gerar crise de confiança com o Senado e afetar votações futuras.
Lula, ciente do equilíbrio delicado, decidiu adiar o anúncio oficial para depois de sua viagem à Ásia. O cálculo é pragmático: evitar que o tema contamine a agenda internacional e permitir mais tempo para costuras internas. No retorno, o governo deve anunciar a indicação com um ambiente político mais controlado e gestos de reciprocidade visíveis.
A expectativa é de que a sabatina de Messias ocorra ainda neste ano, possivelmente em novembro. Caso aprovado, ele deverá reforçar o núcleo jurídico do Supremo mais próximo da visão institucional do governo — centrada na reconstrução democrática e na defesa do Estado de Direito.
No entanto, o processo será um teste de fogo para a articulação política de Lula no Senado. O presidente precisará provar que é possível equilibrar convicção e negociação sem abrir mão da governabilidade. O episódio mostra que, em Brasília, mesmo as escolhas de perfil técnico precisam de um roteiro político meticuloso — e que, no atual contexto, cada gesto tem peso estratégico.


