Da Redação
Em artigo publicado no New York Times, presidente Lula rebate críticas dos EUA, defende soberania brasileira e afirma que democracia não está à venda — ao mesmo tempo diz-se aberto ao diálogo.
Num artigo intitulado “A democracia e a soberania brasileiras são inegociáveis”, publicado em 14 de setembro de 2025 no The New York Times, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dirigiu-se diretamente aos Estados Unidos, respondendo às medidas tarifárias impostas por Washington e a acusações de ingerência política.
Lula começa o texto dizendo que não está disposto a negociar soberania nem democracia em nenhum cenário, reafirmando que a cobrança dos norte-americanos sobre produtos brasileiros, algumas tarifas recentes, foi uma decisão claramente política. Ele aponta que, ao longo dos últimos 15 anos, os EUA acumularam superávit de US$ 410 bilhões no comércio bilateral com o Brasil, e que cerca de 75% das exportações brasileiras para os EUA já são isentas de tarifas, reforçando que os tributos adicionais são arbitrários do ponto de vista comercial.
Além disso, o presidente defende o multilateralismo como caminho preferencial nas relações internacionais, dizendo que alianças e cooperação não devem suplantar princípios de respeito mútuo entre nações. Lula também faz uma defesa enfática do judiciário brasileiro, como guardião constitucional da democracia, contestando acusações, feitas por lideranças americanas, de que o processo judicial contra Jair Bolsonaro é persecutório.
Outros temas tratados no artigo incluem o PIX — sistema de pagamentos digital brasileiro — que ele descreve como emblemático de inclusão financeira; a preservação ambiental, com destaque para redução do desmatamento; e o combate ao desvio de recursos no setor público. Ele também critica esforços de regulamentação de grandes empresas de tecnologia dos EUA (“big techs”), argumentando que muitos desses esforços visam restringir ou condicionar a atuação de empresas brasileiras ou interesses do país no setor digital e de telecomunicações.
Para Lula, o contexto é claro: embora haja espaço para negociações, como ele próprio afirma, essas negociações não podem ocorrer sobre princípios fundamentais do Estado, sob pena de violação da Constituição brasileira. Ele deixa claro que medidas que envolvam soberania, autodeterminação e democracia não estão “à mesa” nem serão objeto de concessão.
O artigo reforça o tom até então adotado pelo governo brasileiro em resposta às denúncias internacionais e pressões externas. A mensagem é tanto para a política externa como para o público interno: demonstra de um lado firmeza nos princípios, do outro disposição para diálogo comercial, mas sob condições de reciprocidade e respeito.