Atitude Popular

Lula parte para o embate

Da Redação.

Diante de um Legislativo que opera para travar a governança e proteger privilégios, o Planalto assume o conflito aberto, apostando no respaldo popular e na exposição da extrema-direita que precisa vencê-lo nas urnas de 2026 para se legitimar

A tensão entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Congresso Nacional atingiu um novo patamar nos últimos dias, evidenciando o que muitos analistas já chamam de um projeto de parlamentarismo informal, construído à margem da Constituição e sem debate popular. O presidente, que até aqui manteve um discurso conciliador, agora indica que irá à judicialização e ao embate direto, jogando luz sobre as manobras de um Legislativo majoritariamente capturado por interesses conservadores e fisiológicos, que travam iniciativas em favor do desenvolvimento social e da redução da desigualdade.

O estopim recente foi a derrubada do decreto presidencial que reduzia o IOF sobre operações de câmbio. Ao defender a judicialização do tema, Lula foi taxativo: “Os interesses de poucos prevaleceram no Congresso”. A fala expõe a fratura institucional que se arrasta desde o impeachment de Dilma Rousseff, quando se consolidou, no parlamento, uma lógica de chantagem política contra o Executivo, calcada no loteamento de emendas, no fisiologismo e na recusa em aprovar projetos que beneficiem a maioria trabalhadora do país.

Não se trata apenas de disputa orçamentária. O Congresso, segundo estudiosos, vem paulatinamente tentando instalar um parlamentarismo de fato, esvaziando a capacidade de ação do presidente eleito sem mudar formalmente o sistema de governo. “Esse Congresso atua como um poder moderador de facto, mas sem qualquer legitimidade para isso”, resume o cientista político Cláudio Couto. É uma postura que não apenas ameaça a governabilidade, mas golpeia o princípio democrático do presidencialismo previsto na Constituição de 1988.

Exemplo desse movimento está no risco de avanço do chamado PL da Anistia, que pode ser pautado pelo deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). Se aprovado, esse projeto abriria espaço para livrar de punições parlamentares que abusaram de emendas de relator ou cometeram desvios de recursos públicos nos últimos anos. Para o governo, seria não apenas um retrocesso, mas a legitimação da impunidade — e mais uma demonstração de que o Congresso age para proteger sua própria casta, em detrimento do interesse coletivo.

Essa conjuntura tem raízes profundas. O modelo de hiperfragmentação partidária, a proliferação de legendas de aluguel e a ascensão da extrema-direita no rastro do golpe contra Dilma geraram um parlamento hostil ao projeto de reconstrução nacional que Lula tenta implementar desde 2023. O resultado é uma política travada, na qual medidas que buscam atender aos mais pobres, fortalecer serviços públicos ou ampliar direitos sociais sofrem derrotas sucessivas.

Ao decidir tensionar, Lula sinaliza que não aceitará mais ser refém de acordos que apenas perpetuam a paralisia. Ao apostar no confronto aberto, o governo se ampara na percepção de que a extrema-direita terá, necessariamente, de derrotá-lo no voto em 2026 para retomar a legitimidade perdida no descrédito do bolsonarismo e no desgaste do Congresso. Uma eventual tentativa de golpe ou impeachment, ao contrário do que pretendem setores conservadores, poderia dar ao governo ainda mais respaldo popular, deixando clara para a sociedade a natureza de quem manipula o Legislativo para sabotar avanços sociais e proteger privilégios.

Politicamente, trata-se de uma jogada arriscada — mas, segundo aliados do Planalto, inevitável. O governo vê espaço para ganhar apoio popular ao expor, sem rodeios, o Congresso que legisla para a elite rentista, ameaça conquistas trabalhistas e desmonta políticas públicas. O Brasil de 2025 vive, assim, um embate frontal entre um Executivo que quer governar e um Legislativo que se coloca como barreira intransponível, projetando um parlamentarismo inconstitucional.

Nesse cenário, a sociedade passa a ter papel decisivo. Ao compreender quem, de fato, trava as mudanças, a população poderá ser chamada a defender, nas ruas e nas urnas, o projeto que escolheu ao eleger Lula. É nesse sentido que o governo parece apostar suas fichas: a exposição crua da sabotagem parlamentar, transformando a crise institucional em fator de mobilização democrática. Se, por um lado, há risco de mais turbulências, por outro, o tensionamento poderá fortalecer a legitimidade de Lula e mostrar, de forma pedagógica, quais são os interesses verdadeiramente em jogo no Congresso Nacional.

Nos próximos meses, a escalada deve continuar. Propostas de privatizações, bloqueios orçamentários e pautas-bomba certamente seguirão no cardápio de um Legislativo disposto a asfixiar o governo. Mas o Planalto, agora, parece disposto a reagir com a mesma força, judicializando decisões, denunciando acordos espúrios e chamando a sociedade para o debate. Pode ser o início de uma virada histórica na forma como o Executivo se relaciona com um Congresso golpista e inimigo das maiorias populares. O Brasil, nesse embate, terá muito a aprender — e a decidir.

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